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A tendência atual nos uniformes militares é de que sejam feitos de modo a tornar quase invisíveis, ou melhor, imperceptíveis, aqueles que têm de usá-los. Aprendeu-se a sábia lição da natureza: seres vivos, muitas vezes frágeis em sua constituição, são capazes de disfarçar-se, pelas cores e/ou formato, para que não caiam facilmente em poder de seus predadores. É o chamado mimetismo. 

A humanidade, no entanto, demorou a aceitar essa ideia. Quem é que nunca viu, ao menos em livros, antigos uniformes militares com cores vistosas e até berrantes, como vermelho ou azul intenso? A Inglaterra muito se orgulhou dos homens que, em Waterloo, formaram a chamada "linha vermelha", não por acaso assim denominada: jaquetas vermelhas eram parte do uniforme. As calças eram azuis.

Na época, essas cores tinham alguma vantagem: permitiam que os homens se reagrupassem com maior facilidade para formações de tiro que haviam sido treinadas. Entretanto, fazia de cada soldado um alvo fácil para o inimigo, de modo que, gradualmente, as cores vistosas foram perdendo terreno para algum tipo de uniforme mais discreto, que podia ser cinza algumas vezes, depois cáqui ou verde, conforme o terreno no qual se deveria combater.

No Brasil, as coisas foram mais ou menos pelo mesmo caminho. Apenas como ilustração, há um trechinho de Varnhagen no qual se descreve o uniforme usado na chamada "Guerra dos Mascates", ocorrida no início do século XVIII. Diz ele:

"Do traje dos nossos fuzileiros de então teremos perfeita ideia, dizendo que era com pouca diferença o dos mosqueteiros: calções e meias com sapato e fivela, sendo as fardas umas sobrecasacas agaloadas de mangas largas, e os chapéus de três bicos, dos quais um ficava para diante." 

Desnecessário é dizer que, daí por diante, os uniformes no Brasil seguiram, aproximadamente, o que era usual em outros  países ocidentais. Entretanto, por vezes, isso se mostrava inadequado ao combate em certos terrenos, como se evidenciou, em fins do século XIX, no conflito de Canudos. Euclides da Cunha, que acompanhou parte da Guerra no próprio local, observou que os soldados "do governo", estavam sempre em desvantagem, e que muito mais adequado era o vestuário de couro dos sertanejos, face às adversidades da caatinga. Menciona, primeiro, em Os Sertões, o problema decorrente do uniforme que então se usava no Exército:

"Soldados vestidos de pano, rompendo aqueles acervos de espinheirais e bromélias, mal arriscavam alguns passos, deixando por ali, esgarçados, os fardamentos em tiras."

Passa, depois, a explicar por que, em seu modo de ver, dever-se-ia copiar a indumentária dos vaqueiros sertanejos:

"O hábito dos vaqueiros era um ensinamento. O flanqueador devia meter-se pela caatinga, envolto na armadura de couro do sertanejo - garantido pelas alpercatas fortes, pelos guarda-pés e perneiras, em que roçariam inofensivos os estiletes dos xiquexiques pelos gibões e guarda-peitos, protegendo-lhe o tórax, e pelos chapéus de couro, firmemente apresilhados ao queixo, habilitando-o a arremessar-se, imune, por ali adentro."

E, como que adivinhando as objeções, acrescenta:

"Não seria, isso, excessiva originalidade. Mais extravagantes são os dólmãs europeus de listas vivas e botões fulgentes, entre os gravetos da caatinga decídua."

 

Desnecessário é dizer que a lição, no Brasil e no mundo, foi devidamente aprendida. Uniformes reluzentes, hoje? Só mesmo em museus e em desfiles militares.

A indumentária militar é mais do que um traje que identifica cada exército em combate. Ela é pensada como um instrumento não só de identificação do soldado, mas da própria nação que eles representa. Além de dividir visualmente os diferentes regimentos de uma tropa, ela marca as hierarquias próprias de cada uma das forças através de acessórios, cores e materiais utilizados.

 

Até sua independência (1822) o Brasil utilizava os uniformes militares portugueses, com variações específicas em cada parte da colônia. Foi somente a partir de 1822 que se deu a criação de uniformes e distintivos brasileiros, que representavam a nova nação que surgia no cenário internacional. E embora as Forças Armadas brasileiras só se consolidem a partir da Guerra do Paraguai (1864-1870), os uniformes militares já eram símbolos bem conhecidos pela população, que inspiravam sentimentos diversos. Ao longo desse tempo, a indumentária militar sofreu grandes alterações de forma, equipamentos e materiais utilizados em sua construção, que identificavam épocas específicas da história militar brasileira.

Graças à parceria entre Gustavo Barroso, na época diretor do Museu Histórico Nacional, e do pintor José Wasth Rodrigues, foi  realizada uma extensa pesquisa sobre essas transformações, que resultou em uma obra indispensável para todos que pesquisam a história das Forças Armadas no Brasil. “Uniformes do Exército Brasileiro” apresenta 228 conjuntos de ilustrações assinadas por Wasth, acompanhadas de descrições textuais de autoria de Barroso, que dão um panorama bem detalhado dos uniformes militares brasileiro de 1730 até 1922. É uma obra de referência fundamental para os reenactors, pois detalha os materiais utilizados em cada fardamento e quais itens faziam parte dos kits, em alguns casos chegando a explicar quais eram seus locais de origem.

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Uniformes Militares - SEC.  XVI e XVII

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Uniformes Militares - 1730 - 1765

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Uniformes Militares - 1823

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Uniformes Militares - 1865 

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Uniformes Militares - 1870

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Uniformes Militares - 1875

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Uniformes Militares - 1880

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Uniformes Militares - 1889

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Uniformes Militares Atuais

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