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As drogas são um assunto muito polêmico na atualidade. Envolve toda a população e mobiliza governos, tanto em seu combate quanto em sua comercialização. Nos últimos anos, o mundo inteiro vem debatendo acerca da legalização e da proibição de uma série de entorpecentes. Com certeza, em algum momento de sua vida, você já ouviu alguém falando sobre os efeitos das drogas e o que elas podem causar ao seu organismo. Mas você sabe exatamente qual é o conceito de drogas, como elas funcionam e quais as diferenças entre cada tipo?

O QUE SÃO DROGAS

São chamadas drogas todas e quaisquer substâncias, naturais ou sintéticas, que modificam as funções normais do organismo de uma pessoa. Também são conhecidas como narcóticos ou entorpecentes. A maioria das drogas tem como origem algum tipo de planta, como a maconha e o ópio. Segundo essa descrição, substâncias como analgésicos ou antiácidos são também consideradas drogas. A diferença é que, nesse caso, são drogas legalizadas e seu uso é feito por meio de prescrição médica. É desse tipo de droga, inclusive, que vem a denominação “drogaria” para as farmácias.

Geralmente o termo “droga” é usado para definir aquelas substâncias ilegais, que são comercializadas no tráfico e à margem da lei: são as drogas ilícitas. Entretanto, referir-se apenas a esse tipo de droga é uma abordagem bastante ingênua. Boa parte das drogas, inclusive, é legalizada e utilizada para tratamentos médicos contra uma enorme variedade de doenças. Mesmo essas drogas ainda podem causar dependências e, se mal administradas, podem levar ao óbito. Existem medicamentos que, mesmo sendo exclusivos para tratamento, são proibidos pelo governo.

A regulamentação do uso e a comercialização das drogas são responsabilidade da legislação de cada país. Em certos países, o uso de maconha, por exemplo, já é liberado até mesmo recreativamente, o que não acontece ainda no Brasil. Nos Estados Unidos, essa legislação é de responsabilidade estadual, sendo que alguns estados já comercializam legalmente drogas como a Cannabis.

CLASSIFICAÇÃO DAS DROGAS

As drogas podem ser classificadas, entre outros critérios, a partir dos efeitos que causam no organismo, independentemente de serem lícitas ou ilícitas. Esses efeitos podem ser estimulantes, depressores ou perturbadores.

Drogas depressoras

As drogas depressoras têm como efeito principal a diminuição da atividade do Sistema Nervoso Central(SNC), podendo levar a delírios. Também chamadas de psicodislépticas, podem incluir drogas injetáveis, ingeríveis ou inaláveis, como:

  • álcool;

  • barbitúricos;

  • diluentes (solventes);

  • quetamina;

  • cloreto de etila (lança perfume);

  • clorofórmio;

  • ópio;

  • morfina;

  • heroína;

  • cola de sapateiro.

Medicina faz uso frequente de algumas drogas desse tipo, principalmente para tratar insônia e ansiedade, por meio de medicamentos soníferos e ansiolíticos. Drogas como a morfina são utilizadas para o tratamento da dor.

Drogas estimulantes

As drogas estimulantes têm como principal efeito biológico a aceleração da atividade do Sistema Nervoso Central (SNC), tendo como consequência o crescimento do estado de vigília e os níveis de adrenalina no sangue. Também conhecidas como drogas psicolépticas, elas levam a um aumento da atividade no pulmão, diminuindo a fadiga e ativando os sentidos. Alguns exemplos de drogas estimulantes são:

  • cocaína;

  • crack;

  • cafeína;

  • teobromina, comum em chocolates;

  • GHB;

  • anfetaminas;

  • metanfetamina.

A absorção dessas drogas acontece das formas mais variadas possíveis, por injeção, inalação, via oral e outras.

Drogas perturbadoras

Por fim, o último grupo de drogas é a categoria das perturbadoras. Em um primeiro momento, elas geram sensação de bem-estar, diminuindo a fadiga e a sensação de cansaço no corpo. Entretanto, levam também a um estado de alteração profunda na noção de espaço e tempo, podendo causar delírios e alucinações. Conhecidas também como psicodistrópticas ou psicodislépticas, essas drogas despersonalizam a percepção do sujeito, por isso sendo designadas como alucinógenas. Algumas delas são:

  • chá de cogumelos;

  • LSD;

  • maconha;

  • haxixe;

  • ecstasy;

  • DMT.

Essas são as drogas responsáveis pelas “viagens” alucinógenas. Dependendo da potência da droga em questão, como o LSD, muitas vezes as pessoas acabam em um estado permanente de alucinação, sem conseguir “voltar” do estado delirante.

DROGAS LÍCITAS

Drogas lícitas são aquelas cujo uso, produção e comercialização são permitidos por lei e regulados pelo governo. Na maioria dos países, o consumo de drogas é regulamentado por algum órgão específico, responsável por legislar o assunto e determinar qual substância é legal e qual é ilegal.

Esses órgãos são ainda responsáveis pela determinação das regras que controlarão os processos de produção e comércio dessas substâncias. Vale ressaltar que isso nada tem a ver com o potencial de prejuízo à saúde humana, uma vez que algumas drogas lícitas são tão ou mais prejudiciais que muitas drogas ilícitas. As substâncias lícitas mais consumidas no mundo incluem álcool, tabaco, benzodiazepínicos (remédios para indução do sono ou controle da ansiedade), xaropes, descongestionantes nasais, anorexígenos e anabolizantes.

Como é possível perceber pela listagem acima, muitas das drogas lícitas são altamente prejudiciais. Apesar disso, seu consumo é aceito socialmente e garantido por lei. Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), o mercado das drogas lícitas é um dos maiores do mundo, além de promover altíssimo nível de vício. Em contrapartida, podem ser encontradas em praticamente qualquer esquina, o que universaliza seu uso e seus danos à saúde.

Álcool

O álcool é uma das drogas mais consumidas em todo o mundo. E, pior do que isso, as pesquisas indicam que seu consumo vem crescendo cada vez mais, principalmente por jovens. O contato com a bebida tem ocorrido mais cedo ano após ano.

Quanto mais cedo alguém consome o álcool, maiores são as chances de se tornar uma pessoa dependente. Sua ingestão provoca sensações de segurança e desinibição em um primeiro instante. Mas, se o consumo passa de certo limite, o indivíduo altera seu comportamento completamente. Torna-se descontrolado, podendo ficar agressivo ou mesmo depressivo. O consumo frequente de álcool leva à dependência, além do desenvolvimento de cirrose hepática, problemas cardíacos e hipertensão. A suspensão do consumo permite a recuperação dos órgãos e dos neurônios afetados.

Há uma relação entre os efeitos do álcool e os níveis da substância no sangue, que variam em razão do tipo de bebida utilizada, da velocidade do consumo, da presença de alimentos no estômago e de possíveis alterações no metabolismo da droga por diversas situações – por exemplo, na insuficiência hepática, em que a degradação da substância é mais lenta.

 

Nível de álcool no sangue Baixo: desinibição do comportamento, certo grau de incoordenação motora, prejuízo das funções sensoriais.

 

Nível de álcool no sangue Médio: maior incoordenação motora (ataxia, a fala torna-se pastosa, há dificuldade de marcha e aumento importante do tempo de resposta (reflexos mais lentos), aumento da sonolência, com prejuízo das capacidades de raciocínio e concentração.

 

Nível de álcool no sangue Alto: podem surgir náuseas e vômitos, visão dupla (diplopia), acentuação da ataxia e da sonolência (até o coma), pode ocorrer hipotermia e morte por parada respiratória.

 

O álcool induz tolerância (necessidade de quantidades progressivamente maiores da substância para se produzir o mesmo efeito desejado ou intoxicação) e síndrome de abstinência (sintomas desagradáveis que ocorrem com a redução ou com a interrupção do consumo da substância)

Cigarro

Outra das drogas mais consumidas do mundo, o cigarro, é um verdadeiro coquetel de substâncias tóxicas e cancerígenas. O uso contínuo da droga leva à perda de resistência respiratória, irritações na região da garganta, tosse constante e prejuízos imensos aos pulmões, podendo desenvolver câncer ou enfisema.

Fumantes jovens são mais prejudicados, uma vez que o metabolismo é alterado, o que compromete o desenvolvido do organismo. Por conta da presença de nicotina no cigarro, ele é considerado uma das drogas mais viciantes entre todos os tipos de substâncias.

Atualmente, o Brasil gasta bilhões de reais para tratar doentes em função do consumo de cigarro. Aumento de impostos, inserção de imagens graficamente chocantes nas embalagens e a proibição de comerciais sobre cigarros são algumas das medidas adotadas pelo governo para tentar diminuir o consumo.

O uso de cigarro leva a uma sensação de euforia e felicidade ao seu usuário. Entretanto, quem tenta parar o vício entra em abstinência e sente tremores fortes. Muitos desistem e as estatísticas mostram que apenas um viciado a cada dez consegue parar de fumar.

Barbitúricos

Os barbitúricos são um grupo de substâncias sintetizadas artificialmente desde o começo do século XX, que possuem diversas propriedades em comum com o álcool e com outros tranquilizantes (Benzodiazepínicos). Seu uso inicial foi dirigido ao tratamento da insônia, porém a dose para causar os efeitos terapêuticos desejáveis não é muito distante da dose tóxica ou letal.

O sono produzido por essas drogas, assim como aquele provocado por todas as drogas indutoras de sono, é muito diferente do sono “natural” (fisiológico). Como consequência de sua principal ação farmacológica, observam-se os principais efeitos:

 

  • diminuição da capacidade de raciocínio e concentração;

  • sensação de calma, relaxamento e sonolência; 

  • reflexos mais lentos. Com doses um pouco maiores, a pessoa tem sintomas semelhantes à embriaguez, com lentidão nos movimentos, fala pastosa e dificuldade na marcha. Doses tóxicas dos barbitúricos podem provocar: 

  • surgimento de sinais de falta de coordenação motora; 

  • acentuação importante da sonolência, que pode chegar ao coma; 

  • morte por parada respiratória.

 

São drogas que causam tolerância (sobretudo quando o indivíduo utiliza doses altas desde o início) e síndrome de abstinência quando ocorre sua retirada, o que provoca insônia, irritação, agressividade, ansiedade e até convulsões. Em geral, são utilizados atualmente na prática clínica para indução anestésica (tiopental) e como anticonvulsivantes (fenobarbital).

 

Benzodiazepínicos

Esse grupo de substâncias começou a ser usado na Medicina durante os anos 1960 e possui similaridades importantes com os barbitúricos em termos de ações farmacológicas, com a vantagem de oferecer uma maior margem de segurança, ou seja, a dose tóxica é muito maior que a dose terapêutica. Atuam potencializando as ações do GABA (ácido gama-amino-butírico), o principal neurotransmissor inibitório do SNC.

 

Neurotransmissor: Substância liberada por célula nervosa, que transmite à outra célula, de nervo ou músculo, um impulso nervoso. Como consequência dessa ação, os benzodiazepínicos produzem:

 

  •  diminuição da ansiedade; 

  •  indução do sono; 

  •  relaxamento muscular; 

  •  redução do estado de alerta.

 

Essas drogas dificultam ainda os processos de aprendizagem e memória, alteram também funções motoras prejudicando atividades como dirigir automóveis e outras que exijam reflexos rápidos. As doses tóxicas dessas drogas são bastante altas, mas pode ocorrer intoxicação se houver uso concomitante de outros depressores da atividade mental, principalmente álcool ou barbitúricos. O quadro de intoxicação é muito semelhante ao causado por barbitúricos.

 

Existem centenas de compostos comerciais disponíveis, que diferem somente em relação à velocidade e duração total de sua ação, alguns são mais bem utilizados clinicamente como indutores do sono, enquanto outros são empregados no controle da ansiedade ou para prevenir a convulsão. Exemplos de benzodiazepínicos: diazepam, lorazepam, bromazepam, midazolam, flunitrazepam, clonazepam.

DROGAS ILÍCITAS

Diferentemente das drogas legalizadas, as substâncias ilícitas são aquelas cuja produção, comercialização e consumo são proibidos por lei. Seu uso se dá por meio do tráfico de drogas, atividade criminosa que aflige a maioria dos países atualmente. Entre as drogas ilícitas mais consumidas no mundo estão: maconha, cocaína, crack, LSD, heroína, ecstasy e outras. Vale ressaltar que a maconha se encontra em uma onda de legalização no mundo inteiro, sendo que diversos países já passaram a regular seu consumo recreativo e medicinal.

Maconha

A maconha é a droga ilícita mais consumida do mundo. Proveniente de uma planta, a Cannabis sativa, consiste na forma moída de suas flores, enrolada como um cigarro. Pode ser consumida de diversas outras maneiras. Provoca calma, relaxamento, secura na boca, além de falta de equilíbrio e de coordenação motora.

O uso contínuo pode agravar casos de transtornos psicológicos, evidenciando quadros como a esquizofrenia. Entretanto, nunca foi registrada uma morte por overdose de maconha, sendo que a dose necessária para algo do tipo acontecer é irreal: 680 quilos em 15 minutos. Devido aos seus efeitos brandos e à possibilidade de uso medicinal (a maconha é um ótimo tratamento para epilepsia, Alzheimer, depressão, esclerose múltipla, síndrome de Hett e outros), vários países estão em processo de legalização da substância, alterando a lei antidrogas. Alguns, inclusive, já liberaram o uso recreativo, arrecadando milhões de dólares com o comércio da erva, como é o caso do estado americano da Califórnia.

Cocaína

Também de origem natural, a cocaína é obtida por meio das folhas de coca (Erythroxylon coca), planta oriunda do continente sul-americano. Por meio de processos químicos, a droga é transformada em um pó branco, sendo inalado ou injetado diretamente na corrente sanguíneaProvoca excitação e euforia de imediato, intensificando a atividade cerebral. Causa diminuição do apetite e aumento considerável da pressão sanguínea. O uso frequente pode causar problemas cardiovasculares, parada respiratória, infarto e derrame. Diferentemente da maconha, o uso excessivo de cocaína pode causar overdose.

Tipos de drogas

Além da classificação por efeitos provocados, as drogas também podem ser separadas de acordo com sua origem.

Crack

O consumo de álcool, tabaco e de outras drogas agrava os problemas sociais, traz sofrimento para indivíduos e famílias e tem consequências econômicas importantes. Nesse contexto, o surgimento e o aumento rápido do consumo do crack desde a década de 1990, incrementam a gravidade dos problemas, ampliam e agravam as condições de vulnerabilidade, especialmente para a camada social mais carente da população.

 

No Brasil, o consumo cresceu, principalmente, entre crianças, adolescentes e adultos que vivem na rua, motivando pressões diversas sobre os atores sociais pela necessidade de ações que deem aos usuários de crack oportunidades de viverem de forma digna e com saúde. O enfoque aqui traz uma compreensão de que o consumo e os problemas com o crack devem ser entendidos como determinados por múltiplos aspectos da existência humana, inclusive as dimensões biológicas, psíquicas e socioculturais tanto na origem dos problemas como nas propostas de sua abordagem.

 

O que é crack?

O crack é uma mistura de cloridrato de cocaína (cocaína em pó), bicarbonato de sódio ou amônia e água destilada, que resulta em pequeninos grãos, fumados em cachimbos (improvisados ou não). O nome crack é derivado do ruído característico que é produzido pelas pedras quando são decompostas pelo fumo. O crack é, portanto, uma droga que leva a molécula de cocaína ao cérebro.

 

Vejamos, então, como isso ocorre:

Após os processos químicos utilizados para extrair a cocaína da folha da coca, produz-se um pó branco (cloridrato de cocaína) que é utilizado por usuários de cocaína, seja mediante inalação nasal ou dissolvida em água para injeção nas veias. As diversas formas de administração da cocaína (inalada, injetada ou fumada) têm efeitos distintos no indivíduo. Quando a droga é fumada, faz com que uma grande quantidade de moléculas de cocaína atinja o cérebro quase imediatamente e produza um efeito explosivo, descrito pelas pessoas que o usam como uma sensação de prazer intenso. A droga é, então, velozmente eliminada do organismo e produz uma súbita interrupção da sensação de bem estar, seguida, imediatamente, por imenso desprazer e enorme vontade de reutilizar a droga. Essa sequência é vivida pelos usuários, que adquirem um comportamento compulsivo, pois, com frequência, sentem necessidade de procurar meios de usar a droga novamente e, cada vez mais, a vontade se alterna rapidamente.

 

Epidemiologia

Quando analisamos como os diversos tipos de drogas são distribuídos na população brasileira, percebemos que o uso do crack é muito raro, considerando a população como um todo. No entanto, quando se enfoca determinadas parcelas específicas da população, encontramos um consumo cada vez maior. Por exemplo, de acordo com o II Levantamento Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotrópicas no Brasil, realizado pela SENAD em parceria com o Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (CEBRID), nas 108 maiores cidades do país, 0,7% da população adulta relataram já ter feito uso de crack pelo menos uma vez na vida, o que significa um contingente de mais de trezentos e oitenta mil pessoas.

 

A maior porcentagem de uso de crack foi encontrada entre homens, na faixa etária de 25 a 34 anos, que corresponde a 3,2% da população adulta ou cerca de cento e noventa e três mil pessoas. Além disso, a comparação dos resultados dos levantamentos realizados, mostrou que houve aumento estatisticamente significativo daqueles que relataram o uso de crack no mês da pesquisa. Embora usuários de crack se encontrem em todas as regiões do País, as regiões Sul e Sudeste concentram a maior parte dos usuários identificados na pesquisa. Vários estudos foram feitos com estudantes em várias cidades do Brasil encontrando taxas de uso de cocaína, pelo menos uma vez na vida, sempre menores que 3,6%. No entanto, no I Levantamento Nacional sobre o Uso de Álcool, Tabaco e outras Drogas entre universitários das 27 Capitais Brasileiras, se somados os percentuais de uso na vida de cocaína, merla e crack, a prevalência é de 9,7%.

 

Quando a SENAD, em parceria com o CEBRID, estudou o uso de drogas por meninos e meninas que vivem em situação de rua, encontrou taxas bem maiores: o estudo apontou o uso de cocaína em 45% de crianças e adolescentes no Rio de Janeiro, 31% em São Paulo, e 20% em Recife. O uso frequente de crack foi mencionado em quase todos os Estados, sendo maior em São Paulo, Recife, Curitiba e Vitória, com variação de 15 a 26%. Toda essa realidade nos impulsiona a compreender mais e mais as razões de crescimento do uso dessa droga e sua ação maléfica no organismo.

 

Então, como o crack atua no organismo?

  • Sistema Nervoso Central:  Quando a cocaína é fumada em forma de crack, o vapor aspirado é rapidamente absorvido pelos pulmões e alcança o cérebro em 6 a 8 segundos. Quando a droga é injetada nas veias demora de 16 a 20 segundos e, quando cheirada, demora de 3 a 5 minutos para atingir o mesmo efeito. Fumar crack é a via mais rápida de fazer com que a droga chegue ao cérebro e, provavelmente, essa é a razão para a rápida progressão da dependência.

  • A ação do crack no cérebro: Quando o crack atinge o cérebro, produz sensação de prazer e satisfação. A área do cérebro estimulada pela droga é a mesma que é ativada quando os instintos de sobrevivência e reprodução são satisfeitos, como, por exemplo, quando a pessoa tem satisfação sexual ou quando bebe água para saciar a sede. Esta é uma das principais regiões envolvidas com os quadros de dependência. Com o uso de crack, a região cerebral pode ser estimulada enormemente, pois causa sensações de prazer que excedem àquelas experimentadas em situações normais. A região do cérebro também inclui importantes centros de memória, que ajudam a lembrar o que foi feito e o que levou ao estado de prazer. Quando a pessoa faz uso de crack, essas regiões registram memória de pessoas, lugares, objetos e situações que levaram àquela sensação. Assim, diversos estímulos associados a essas memórias podem ativar o desejo de voltar a experimentar aquela situação prazerosa. Este é o mesmo fenômeno que ocorre quando o indivíduo sente o cheiro de uma comida e seu organismo sofre reações antes mesmo de ele se alimentar. Outra região do cérebro atingida pelo crack é responsável por atividades relacionadas à solução de problemas, à flexibilidade mental, ao julgamento moral e à velocidade de processamento de informações. É onde o cérebro integra as informações e avalia as diversas decisões que pode tomar.

 

 

  • Assim, é possível que antes de se tornar dependente, o indivíduo consiga suprimir a urgência originada nas áreas relacionadas à satisfação e à memória do prazer, e escolher se quer ou não usar a droga. Mas uma vez dependente, sua capacidade de julgamento fica prejudicada, tornando-se mais propenso a seguir os estímulos de urgência que levam ao uso da droga. Com o uso continuado, os efeitos de curto e médio prazo vão se acumulando e permitem o surgimento de efeitos de longo prazo, que podem durar meses ou anos e até mesmo ser irreversíveis.

Drogas sintéticas

As drogas sintéticas são aquelas produzidas por meio de alguma substância química com princípios psicoativos, provocando alucinações por estimular ou deprimir o SNC. Podem ser utilizadas das mais diversas maneiras, como injeção, pó, comprimidos, entre outros. Alguns exemplos são:

  • anfetaminas;

  • metanfetaminas;

  • LSD;

  • ecstasy.

Anfetaminas

São substâncias sintéticas. Muitas vezes, essa denominação “anfetaminas” é utilizada para designar todo o grupo de drogas que apresentam ações semelhantes à anfetamina, a primeira delas produzida em laboratório. Dessa forma, são exemplos de drogas “anfetamínicas”: o fenproporex, o metilfenidato, o manzidol, a metanfetamina e a dietilpropiona. Seu mecanismo de ação é aumentar a liberação e prolongar o tempo de atuação de alguns neurotransmissores utilizados pelo cérebro, como a dopamina e a noradrenalina.

 

Efeitos do uso de anfetaminas

  •  diminuição do sono e do apetite;

  •  sensação de maior energia e menor fadiga, mesmo quando realiza esforços excessivos, o que pode ser prejudicial;

  •  rapidez na fala;

  •  dilatação da pupila;

  •  taquicardia;

  •  elevação da pressão arterial.

 

Doses tóxicas Com doses tóxicas, acentuam-se esses efeitos anteriores, o indivíduo tende a ficar mais irritável e agressivo, pode considerar-se como vítima de perseguição inexistente (delírios persecutórios), ter alucinações e convulsões. Tolerância e abstinência O consumo dessas drogas induz tolerância. Não se sabe com certeza se ocorre uma verdadeira síndrome de abstinência. São frequentes os relatos de sintomas depressivos: falta de energia, desânimo, perda de motivação, por vezes, esses sintomas são bastante intensos, quando há interrupção do uso dessas substâncias. Uso clínico Entre outros usos, destaca-se sua utilização como moderadores do apetite (remédios para emagrecer).

LSD

É uma das substâncias mais potentes com ação psicotrópica que se conhece. As doses de 20 a 50 milionésimos de grama produzem efeitos com duração de 4 a 12 horas. Seus efeitos dependem muito da sensibilidade da pessoa às ações da droga, de seu estado de espírito no momento da utilização e também do ambiente em que se deu a experiência.

 

Efeitos do uso de LSD

  • distorções perceptivas (cores, formas e contornos alterados);

  • fusão de sentidos (por exemplo, a impressão de que os sons adquirem  forma ou cor);

  • perda da discriminação de tempo e espaço (minutos parecem horas ou metros assemelham-se a quilômetros);

  • alucinações (visuais ou auditivas) podem ser vivenciadas como sensações agradáveis, mas também podem deixar o usuário extremamente amedrontado;  estados de exaltação (coexistem com muita ansiedade, angústia e pânico e são relatados como boas ou más “viagens”).

 

Outra repercussão psíquica da ação do LSD sobre o cérebro são os delírios, ou seja, falsos juízos da realidade: há uma realidade, um fato qualquer, mas a pessoa delirante não é capaz de fazer avaliações corretas a seu respeito.

Exemplos dos delírios Delírios de grandiosidade:  O indivíduo se julga com capacidades ou forças extraordinárias. Por exemplo, capacidade de atirar-se de janelas, acreditando que pode voar, de avançar mar adentro, crendo que pode caminhar sobre a água, de ficar parado em frente a um carro numa estrada, julgando ter força mental suficiente para pará-Io.

 

Há descrições de pessoas que experimentam sensações de ansiedade muito intensa, depressão e até quadros psicóticos por longos períodos após o consumo do LSD. Uma variante desse efeito é o flashback, quando após semanas ou meses depois de uma experiência com LSD, o indivíduo volta a apresentar repentinamente todos os efeitos psíquicos da experiência anterior, sem ter voltado a consumir a droga novamente, com consequências imprevisíveis, uma vez que tais efeitos não estavam sendo procurados ou esperados e podem surgir em ocasiões bastante impróprias.

 

Efeitos no resto do organismo

 

  • aceleração do pulso;

  • dilatação pupilar.

  • episódios de convulsão já foram relatados, mas são raros.

 

Tolerância e abstinência

O fenômeno da tolerância desenvolve-se muito rapidamente com o LSD, mas também há um desaparecimento rápido com a interrupção do uso da substância. Não há descrição de uma síndrome de abstinência se um usuário crônico deixa de consumir a substância, mas, ainda assim, pode ocorrer a dependência quando, por exemplo, as experiências com o LSD ou outras drogas perturbadoras do SNC são encaradas como “respostas aos problemas da vida” ou “formas de encontrar-se”, que fazem com que a pessoa tenha dificuldades em deixar de consumir a substância, frequentemente ficando à deriva no dia a dia, sem destino ou objetivos que venham enriquecer sua vida pessoal.

 

Importante: O Ministério da Saúde do Brasil não reconhece nenhum uso clínico dos alucinógenos e sua produção, porte e comércio são proibidos no território nacional.

 

Ecstasy

(3,4-metileno-dioxi-metanfetamina ou MDMA) É uma substância alucinógena que guarda relação química com as anfetaminas e apresenta também propriedades estimulantes. Seu uso é frequentemente associado a certas culturas, como alguns grupos de jovens frequentadores de danceterias ou boates. Há relatos de casos de morte por hipertermia maligna, em que a participação da droga não é completamente esclarecida. Possivelmente, a droga induza a um quadro tóxico específico, uma vez que com o aumento da temperatura do corpo, a ingestão de água torna-se uma necessidade, porém o ecstasy dificulta a eliminação de líquidos, gerando o acúmulo de água e drogas no corpo. Também existem suspeitas de que a substância seja tóxica para um grupo específico de neurônios produtores de serotonina.

 

Hipertermia maligna – Aumento excessivo da temperatura corporal.

Drogas naturais

As drogas de origem natural são aquelas que causam efeitos sem a composição de nenhuma substância química. Ou seja, sua produção não é proveniente de nenhum laboratório. A maconha e a cafeína são exemplos de drogas naturais.

Drogas semissintéticas

Por fim, as drogas semissintéticas são uma junção das duas classes anteriores. Produzidas com base em drogas naturais, passam por consideráveis alterações químicas em laboratório. Crack, cocaína e merla são exemplos de drogas semissintéticas.

OPIÓIDES, O QUE SÃO?

Grupo que inclui drogas “naturais”, derivadas da papoula do oriente (Papaver somniferum), sintéticas e semissintéticas, obtidas a partir de modificações químicas em substâncias naturais.

 

As drogas mais conhecidas deste grupo são a morfina, a heroína e a codeína, além de diversas substâncias totalmente sintetizadas em laboratório. Sua ação decorre da sua capacidade de imitar o funcionamento de diversas substâncias naturalmente produzidas pelo organismo, como as endorfinas e encefalinas.

A encefalina é um neurotransmissor liberado pelo organismo durante a atividade física e produz sensação de bem-estar e euforia. A liberação do neurotransmissor encefalina, por sua vez, está associada à sensação de alívio de dor.

 

Em linhas gerais os opioides são drogas depressoras da atividade mental, mas possuem ações mais específicas, como de analgesia e de inibição do reflexo da tosse. Causam os seguintes efeitos:

 

  • contração pupilar importante; 

  • diminuição da motilidade do trato gastrointestinal; 

  • efeito sedativo, que prejudica a capacidade de concentração; 

  • torpor e sonolência.

 

Os opioides deprimem o centro respiratório, de modo que a respiração se torna mais lenta e superficial, até a parada respiratória, perda da consciência e morte.

 

  •  Efeitos da abstinência: 

  •  náuseas; 

  •  cólicas intestinais; 

  •  lacrimejamento; 

  •  corrimento nasal; 

  •  câimbra;

  •  vômitos; 

  •  diarreia.

 

Uso clínico: Os medicamentos à base de opioides são usados para controlar a tosse, a diarreia e como analgésicos potentes. Exemplos de opioides: morfina, heroína, codeína, meperidina e propoxifeno.

SOLVENTES E INALANTES

Este grupo de substâncias, entre os depressores, não possui nenhuma utilização clínica, com exceção do éter etílico e do clorofórmio, que já foram largamente empregados como anestésicos gerais. Podem tanto ser inalados involuntariamente por trabalhadores ou quando utilizados como drogas de abuso, por exemplo, a cola de sapateiro. Alguns exemplos são o tolueno, o xilol, o n-hexano, o acetato de etila, o tricloroetileno, além dos já citados éter e clorofórmio, cuja mistura é chamada frequentemente de “lança-perfume”, “cheirinho” ou “loló”. Os efeitos têm início bastante rápido após a inalação, de segundos a minutos, e também têm curta duração, o que predispõe o usuário a inalações repetidas, com consequências às vezes desastrosas.

Efeitos observados

Primeira fase: euforia, com diminuição da inibição de comportamento.

Segunda fase: predomínio da depressão do SNC, o indivíduo torna- -se confuso, desorientado; podem também ocorrer alucinações auditivas e visuais.

 

Terceira fase: a depressão se aprofunda, com redução acentuada do estado de alerta; falta de coordenação ocular e motora (marcha vacilante, fala pastosa, reflexos bastante diminuídos); as alucinações tornam-se mais evidentes.

 

Quarta fase: depressão tardia; ocorre inconsciência; pode haver convulsões, coma e morte.

 

O uso crônico dessas substâncias pode levar à destruição de neurônios causando danos irreversíveis ao cérebro, assim como lesões no fígado, rins, nervos periféricos e medula óssea. Outro efeito ainda pouco esclarecido dessas substâncias (particularmente dos compostos halogenados, como o clorofórmio) é sua interação com a adrenalina, pois aumenta sua capacidade de causar arritmias cardíacas, o que pode provocar morte súbita. Embora haja tolerância, até hoje não há uma descrição característica da síndrome de abstinência relacionada a esse grupo de substâncias.

ALUCINÓGENOS

Alucinógenos

Designação dada a diversas drogas que possuem a propriedade de provocar uma série de distorções do funcionamento normal do cérebro, que trazem como consequência uma variada gama de alterações psíquicas, entre as quais, alucinações e delírios, sem que haja uma estimulação ou depressão da atividade cerebral. Alucinógenos propriamente ditos ou alucinógenos primários: São os alucinógenos capazes de produzir seus efeitos psíquicos em doses que praticamente não alteram outra função no organismo. Alucinógenos secundários como os anticolinérgicos, são capazes de induzir efeitos alucinógenos em doses que afetam de maneira importante diversas outras funções. Plantas com propriedades alucinógenas: Diversas plantas possuem propriedades alucinógenas como, por exemplo, alguns cogumelos (Psylocibe mexicana, que produz a psilocibina), a jurema (Mimosa hostilis) e outras plantas eventualmente utilizadas na forma de chás e beberagens alucinógenas. Há também substâncias alucinógenas sintetizadas artificialmente, das quais a principal é a dietilamida do ácido lisérgico (LSD).

ANTICOLINÉRGICOS

Anticolinérgicos

São substâncias provenientes de plantas ou sintetizadas em laboratório que têm a capacidade de bloquear as ações da acetilcolina, um neurotransmissor encontrado no Sistema Nervoso Central e periférico. Produzem efeitos sobre o psiquismo quando utilizadas em doses relativamente grandes e também provocam alterações de funcionamento em diversos sistemas biológicos, portanto, são drogas pouco específicas.

 

Delírios persecutórios

O indivíduo acredita ver à sua volta indícios de uma conspiração contra si e pode até agredir outras pessoas numa tentativa de defender-se da “perseguição”.

 

Efeitos Psíquicos

Causam alucinações e delírios. São comuns as descrições de pessoas intoxicadas em que elas se sentem perseguidas ou têm visões de pessoas ou animais. Esses sintomas dependem bastante da personalidade do indivíduo assim como das circunstâncias ambientais em que ocorreu o consumo dessas substâncias. Os efeitos são, em geral, bastante intensos e podem durar de 2 a 3 dias.

 

Efeitos Somáticos

  • dilatação da pupila;

  • boca seca;

  • aumento da frequência cardíaca;

  • diminuição da motilidade intestinal (até paralisia);

  • dificuldades para urinar.

 

Em doses elevadas, podem produzir grande elevação da temperatura (até 40-41°C), com possibilidade de ocorrerem convulsões. Nessa situação, a pessoa apresenta-se com a pele muito quente e seca, com uma hiperemia principalmente localizada no rosto e no pescoço.

 

Hiperemia – congestão sanguínea em qualquer parte do corpo.

 

São exemplos de drogas desse grupo: algumas plantas, como certas espécies do gênero Datura, conhecidas como saia branca, trombeteira ou zabumba, que produzem atropina e escopolamina, e certos medicamentos, como o trihexafenidil, a diciclomina e o biperideno.

ESTEROIDES ANABOLIZANTES

Esteroides anabolizantes

Embora sejam descritos efeitos euforizantes por alguns usuários dessas substâncias, essa não é, geralmente, a principal razão de sua utilização. Muitos indivíduos que consomem essas drogas são fisiculturistas, atletas de diversas modalidades ou indivíduos que procuram aumentar sua massa muscular e podem desenvolver um padrão de consumo que se assemelha ao de dependência.

 

Efeitos adversos

  • diversas doenças cardiovasculares;

  • alterações no fígado, até câncer;

  • alterações musculoesqueléticas indesejáveis (ruptura de tendões, interrupção precoce do crescimento).

 

Essas substâncias, quando utilizadas por mulheres, podem provocar masculinização (crescimento de pelos pelo corpo, a voz torna-se mais grave, aumento do volume do clitóris). Em homens, pode haver atrofia dos testículos.

DEPENDÊNCIA

O que é dependência?

O uso abusivo não significa necessariamente a dependência. Caracteriza-se a dependência pela dificuldade de a pessoa parar ou diminuir o consumo pela simples decisão própria, sem o recurso de ajuda externa, seja de um especialista, de um medicamento ou de outras pessoas.

 

A dependência inclui fenômenos fisiológicos, comportamentais e cognitivos e leva o indivíduo a dar prioridade ao uso da droga em detrimento de outros comportamentos que antes tinham maior valor. Uma das características centrais da dependência é a “fissura” ou o desejo irresistível de consumir a substância. A pessoa não se torna dependente de uma hora para outra.

 

Existe um processo entre os diferentes níveis de consumo, no qual é possível transitar de um lado para o outro, voltar a níveis anteriores, estacionar em algum, recair, retroceder e avançar.

 

Síndrome de dependência

Muitas vezes, ao serem apontados ao adolescente os riscos que corre em razão do uso de alguma droga, ele reage afirmando que “não tem problema porque não é dependente”. De fato, a grande maioria dos adolescentes e mesmo dos adultos que consomem alguma substância psicotrópica não é dependente dela. Isso não significa, no entanto, que esse uso não esteja causando problemas para a sua saúde física ou mental ou para a sua vida em sociedade. É necessário avaliar as consequências de qualquer uso de drogas.

 

A identificação da dependência está atrelada a uma gama de fatores que se revela mediante alguns comportamentos a serem observados em seu conjunto. Por essa razão, em vez de se falar da dependência de drogas como uma doença, adotamos a referência à “síndrome de dependência”, ou seja, um conjunto de fenômenos comportamentais, cognitivos e fisiológicos que se desenvolvem após o repetido consumo de uma substância psicoativa.

 

De acordo com a Organização Mundial da Saúde, considera-se dependente de uma droga a pessoa que apresenta três ou mais das seguintes manifestações:

  • forte desejo de consumir a droga;

  • dificuldade de controlar o consumo (por exemplo, quanto à hora em que começa ou para de fazê-lo, quanto à quantidade etc.);

  • utilização persistente da droga apesar das suas consequências prejudiciais;  maior prioridade dada ao uso da droga em detrimento de outras atividades ou obrigações;

  • aumento da tolerância à droga (necessidade de doses cada vez maiores para obter o mesmo efeito);

  • síndrome de abstinência (sintomas corporais como dores, tremores ou outros, que ocorrem quando o consumo da droga é interrompido ou diminuído).

 

Durante muito tempo, a dependência de álcool ou de outras drogas foi considerada dentro de uma visão moralista segundo a qual a pessoa se tornava dependente por falta de caráter. Hoje, admite-se que o desenvolvimento da dependência inclui fatores biológicos, psicológicos, comportamentais, culturais, sociais, enfim, passou-se a perceber o caráter multidisciplinar e complexo da síndrome de dependência. Com base nessa concepção, o dependente pode ser visto como alguém que necessita de ajuda e a quem deve ser disponibilizada uma rede de serviços que proporcionem sua recuperação e sua reinserção social, caso esteja se afastando de suas relações sociais significativas.

 

Uso de drogas e o contexto social

Teorias mais recentes ampliam o foco do indivíduo para o contexto de suas relações. Nessa perspectiva, é importante considerar a qualidade das relações que a pessoa estabelece nos diferentes domínios da vida, como a família, a escola, o trabalho e a comunidade. Os fatores de risco e de proteção do uso indevido de drogas estão presentes em todos esses ambientes e, por isso, o dependente de drogas ou o usuário que está encontrando problemas deve ser visto na sua interação com eles e o seu tratamento deve buscar a formação de uma rede de apoio que coloque diferentes profissionais em conexão.

 

Aqueles que têm a intenção de interferir no uso de drogas dos adolescentes, seja prevenindo que o comportamento se instale, seja diminuindo-o ou eliminando-o, precisam ter uma visão ampla da situação. O uso de drogas não é um fenômeno individual, nem uma decisão pessoal isolada de um contexto social. Ao longo da história da humanidade, o uso de substâncias que alteram a consciência esteve e está presente praticamente em todas as sociedades.

 

Além dos fatores sociais amplos, as decisões individuais também são influenciadas por fatores internos e experiências relacionais com a família, com os pares, com a escola e com a comunidade mais próxima. Numa dimensão mais ampla, as condições sociais como o desemprego, a discriminação, o empobrecimento, a violência, assim como a disponibilidade de acesso às drogas são fatores importantes na configuração do abuso de drogas.

VULNERABILIDADE DO ADOLESCENTE

Além dos fatores que acabamos de apresentar, existem aspectos pessoais e vivenciais que tornam o adolescente mais vulnerável a envolver-se em comportamentos de risco:

  •  baixa autoestima;

  •  falta de autoconfiança;

  •  dificuldade de tomar decisões;

  •  fatores biológicos;

  •  conflitos familiares e violência doméstica;

  •  fracasso ou exclusão escolar;

  •  regras e sanções ambíguas ou inconsistentes na família ou na escola;

  •  falta de vínculos afetivos com a comunidade;

  •  falta de consciência dos efeitos das drogas;

  •  ausência de participação social e de um projeto de vida.

 

Muitas crianças e adolescentes sofrem discriminações, violências diversas, exclusão escolar, incompreensão e abandono. Isso pode ocorrer em qualquer situação socioeconômica em que eles se encontrem. O que leva alguém a enfrentar essas situações de uma forma mais destrutiva ou construtiva, muitas vezes, está em pequenas (ou grandes) coisas que fazem a diferença.

 

Prevenção

Uma pesquisa sistemática analisou crianças de diferentes extratos sociais e etnias, expostas a significativas adversidades e estresse nas suas vidas, que conseguiram evitar padrões de fracasso escolar, abuso de drogas e delinquência juvenil. Identificaram-se os seguintes “fatores-chave”, que estavam presentes na vida dessas crianças:

 

  •  relacionamento afetivo fortalecido com ao menos um adulto significativo;

  • comunicação consistentemente clara de altas expectativas para a criança; oportunidades para participar e contribuir significativamente para o seu meio social.

 

A prevenção do uso de drogas não é uma questão unicamente individual e não existem soluções mágicas ou “certas”, mas esses três fatores revelam condições favoráveis à realização de escolhas saudáveis e realizadoras por crianças e adolescentes e têm como consequência a possível diminuição da adoção de comportamentos arriscados.

CONCLUSÃO

O consumo de drogas faz parte da história da humanidade. Desde a Antiguidade, o ser humano já fazia uso de algum tipo de substância psicoativa ou que alterasse os sentidos. Resíduos de vinho já foram encontrados em jarros no Irã datados de 5.400-5.000 a.C.

Os chineses foram um dos primeiros povos a, provavelmente, fazer uso da maconha (4.000 a.C.) enquanto os sumérios consumiram o ópio em 3.500 a.C., chamando a planta de “flor do prazer”.

Somente a partir do século XX começaram a surgir proibições a nível global com relação ao consumo de drogas. Com a proibição, o consumo não diminuiu, o que levou o comércio para a ilegalidade, alimentando o tráfico de drogas.

A cruzada contra as drogas teve início nos Estados Unidos, em 1948. De lá para cá, milhões de pessoas foram vítimas da guerra às drogas que, até hoje, se mostrou um fracasso, uma vez que o tráfico jamais foi erradicado em nenhum país.

Em 1961, a Organização das Nações Unidas (ONU) foi percursora da globalização da proibição e distinção das drogas, sendo classificadas como “leves” ou “pesadas”. Nos últimos anos, alguns países passaram a tratar o consumo de drogas como problema de saúde, admitindo a ineficiência do uso da força contra o tráfico.

Assim, países como Estados Unidos, Canadá, Portugal, Holanda e vários outros já tratam o consumo de drogas como uma possibilidade de arrecadar impostos, principalmente por meio da legalização e do comércio regulado das drogas. Entretanto, a maioria dos países está muito longe dessa realidade.

No Brasil, milhares de pessoas inocentes morrem todos os anos no meio dos conflitos entre a polícia e os traficantes. Em sua maioria são pobres e marginalizados, feitos reféns de um dos maiores problemas sociais do país.

Créditos:

Antonio A. Belelli 

Cursos de Extensão pela UNB em parceria com a SENAD / DF 

  • Drogas no Ambiente de Trabalho;

  • Prevenção e combate ao Uso de Drogas

Especializações - Mestrado:

  • Neuropedagogia 

  • Neurociências

  • Segurança Pública

  • Psicologia educacional

  • Gestão Escolar

  • Mestre em Ciências da Educação.

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