Você não pode mudar o que sente, mas pode aprender o que fazer com seus sentimentos. Nós do LIV – Laboratório Inteligência de Vida – acreditamos nesse conceito e por isso levamos para escolas de todo o Brasil um programa de educação socioemocional que ajuda estudantes a conhecerem seus sentimentos e a desenvolverem habilidades para a vida.
Você não pode mudar o que sente, mas pode aprender o que fazer com seus sentimentos. Nós do LIV – Laboratório Inteligência de Vida – acreditamos nesse conceito e por isso levamos para escolas de todo o Brasil um programa de educação socioemocional que ajuda estudantes a conhecerem seus sentimentos e a desenvolverem habilidades para a vida.
A neurociência revolucionou o processo de ensino e aprendizagem e ofereceu subsídios para educadores planejarem aulas mais inclusivas, que levam em consideração as especificidades de cada um dos estudantes. Hoje todo professor precisa conhecer preceitos básicos de neurociência e aprendizagem se quiser acompanhar a transformação na educação que está em curso.
O QUE É NEUROCIÊNCIA
A neurociência é o campo científico que investiga o sistema nervoso, formado pelo cérebro, medula espinhal e nervos periféricos, e as ligações dele com toda a fisiologia do corpo humano.
Como campo autônomo, ela existe desde a década de 1970. A neurociência é uma área interdisciplinar, reunindo saberes da biologia, medicina, química, matemática, linguística, psicologia, engenharia, física e ciência da computação.
Todas estas disciplinas ajudam a compreender como mais de 86 bilhões de células nervosas nascem, se desenvolvem e se conectam. Assim, cientistas conseguem decifrar os comandos e as funções do cérebro, além das alterações que o órgão sofre no processo de envelhecimento humano.
Os principais temas estudados na neurociência são:
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Controle neural das funções vegetativas;
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Controle neural das funções sensoriais;
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Controle neural das funções motoras;
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Mecanismos de atenção, memória e aprendizagem;
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Emoção, linguagem e comunicação;
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Relação entre cérebro e comportamento;
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Doenças do sistema nervoso, da enxaqueca à doença de Alzheimer;
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Transtornos de saúde mental, como a depressão.
Avanços significativos na área de transtornos de saúde mental e doenças do sistema de nervoso relacionadas ao envelhecimento fizeram com que a década de 1990 ficasse conhecida como “A Década do Cérebro”. Hoje a neurociência é dividida em ramos de especialização, que são:
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Neurociência afetiva: estuda o comportamento dos neurônios em relação às emoções;
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Neurociência comportamental e cognitiva: pesquisa a relação do sistema nervoso com o comportamento humano e as funções cognitivas. Envolve o estudo da memória, do raciocínio e do aprendizado;
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Neurociência computacional: simula e modela as funções cerebrais em computadores para estudar o funcionamento do cérebro;
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Neurociência cultural: estuda como o cérebro influencia na formação e perpetuação de crenças e valores de um indivíduo e da sociedade;
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Neurociência celular e molecular: concentra-se no estudo dos neurônios e das moléculas do sistema nervoso;
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Neurociência do desenvolvimento: pesquisa a formação, desenvolvimento e alterações do sistema nervoso;
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Neuroengenharia: aplica o conhecimento da engenharia na busca de soluções e melhorias de todo o sistema nervoso;
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Neuroimagem: estuda e desenvolve imagens do cérebro para diagnosticar doenças;
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Neurofisiologia: pesquisa as funções cerebrais.
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Neuroetologia: estuda a relação entre o comportamento animal e o sistema nervoso, de uma perspectiva comparada e evolutiva.
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Neuropedagogia: estuda a relação entre o sistema nervoso e o processo de aprendizagem em diferentes fases da vida.
QUAL A RELAÇÃO ENTRE NEUROCIÊNCIA E APRENDIZAGEM
A neurociência ajuda a entender como o ser humano desenvolve capacidades de linguagem, criatividade e raciocínio, por meio do monitoramento da atividade cerebral de crianças e adolescentes ao realizarem tarefas cognitivas. Para isso, recorre-se a tecnologias como a ressonância magnética, a tomografia e o eletroencefalograma.
Estudos com essas tecnologias corroboraram a noção de que a aprendizagem está intimamente ligada ao desenvolvido do cérebro. Este é moldável aos estímulos do ambiente, que levam os neurônios a formarem novas sinapses. Explicando de forma esquemática, os neurônios são as células que formam o cérebro. Eles são capazes de fazer sinapses, que são os canais de comunicação entre dois ou mais neurônios. A comunicação se dá por meio de sinais elétricos, que formam circuitos de processamento de informação.
Os estímulos ambientais fortalecem os circuitos, que se multiplicam e formam conexões cada vez mais rápidas. Eles acabam por formar uma rede, ligando diferentes regiões do cérebro. Assim, da perspectiva da neurociência, a aprendizagem é um processo desencadeado pelo cérebro ao reagir aos estímulos do ambiente. As sinapses geradas formam circuitos que processam as informações e com capacidade de armazenamento molecular. Todo o cérebro é ativado no processo de aprendizagem, do nível molecular e celular às áreas corticais. É também a partir da observação do comportamento cerebral que é possível identificar transtornos de aprendizagem.
O debate no meio científico de unir neurociência e aprendizagem remonta à década de 1960, mas ganhou um novo fôlego com as novas descobertas na área, particularmente na neurociência cognitiva. Este subcampo estuda a ligação entre cérebro, atividades mentais superiores e comportamento, recorrendo à psicologia.
Quando aliada à psicologia, a relação entre neurociência e aprendizagem se torna ainda mais efetiva. A neurociência se concentra no estudo das alterações do cérebro durante seu funcionamento, enquanto a psicologia foca nos significados, ou seja, em como as crianças percebem, interpretam e utilizam o conhecimento adquirido. O curioso é que a relação entre neurociência e aprendizagem veio a confirmar as principais ideias de teóricos da educação como Jean Piaget (1896-1980), Lev Vygotsky (1896- 1934), Henri Wallon (1879-1962) e David Ausubel (1918-2008). Entre elas está o impacto das emoções na retenção de informação, a importância da motivação e da atenção para estudar e a capacidade do cérebro de se modificar de acordo com experiências e o contato com o meio.
AS FUNÇÕES QUE O CÉREBRO PRECISA DESENVOLVER PARA APRENDER
Para o processo de aprendizagem ser bem sucedido, o cérebro de um indivíduo precisa desenvolver três grandes funções:
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Memória de trabalho: capacidade de reter e acessar informações em períodos curtos de tempo. A função é essencial para a leitura e tarefas que exigem planejamento, como resolução de problemas e jogos com instruções;
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Controle inibitório: capacidade de resistir a impulsos e de afastar distrações. Ou seja, manter a concentração;
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Flexibilidade cognitiva: capacidade de reorganizar pensamentos e práticas para adequá-los a determinados contextos.
MITOS SOBRE NEUROCIÊNCIA E APRENDIZAGEM
O fascínio pelas últimas descobertas sobre a capacidade do cérebro humano levou a interpretações erradas sobre a relação entre neurociência e aprendizagem. O fenômeno até recebeu um nome-próprio em 2002 pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), "neuromitos". Os mais difundidos são:
1. O SER HUMANO USA APENAS 10% DA CAPACIDADE DO CÉREBRO
Este mito foi quebrado com os exames de neuroimagem, que mostram a ativação das regiões do cérebro. Neurocientistas buscaram a origem da afirmação, alertando que não foram encontradas evidências científicas de que exista alguma parte do cérebro humano que nunca fora utilizada.
2. OS LADOS ESQUERDO E DIREITO DO CÉREBRO FUNCIONAM DE FORMA INDEPENDENTE
A origem deste mito está nos estudos de especialização hemisférica do cérebro, que relacionaram o lado esquerdo à linguagem e o direito ao pensamento abstrato. Apesar de boa parte do processamento da linguagem acontecer no hemisfério esquerdo, isso não significa que o lado direito não realize funções relacionadas à linguagem, e vice-versa.
3. MÚLTIPLAS INTELIGÊNCIAS
A noção de múltiplas inteligências já está ultrapassada e acaba por ofuscar as últimas descobertas da neurociência sobre a aprendizagem. Ela defende que uma pessoa tem múltiplas habilidades: linguística, lógica, espacial, cinestésica, interpessoal, intrapessoal, naturalística e musical. O problema é que este modelo geralmente é interpretado pelo público leigo como se não houvesse correlação entre as diferentes habilidades dos sujeitos.
4. ESTILOS DE APRENDIZAGEM BASEADOS EM PEDAGOGIAS MULTISSENSORIAIS
Ainda faltam evidências da neurociência que comprovem os modelos de aprendizagem multissensoriais, como os que trabalham com estimulação visual, auditiva e cinestésica. Eles trabalham com o pressuposto de que as informações obtidas por meio de uma modalidade sensorial são processadas no cérebro sem se relacionar com o conteúdo aprendido a partir de outra modalidade.
5. É PRECISO BEBER BASTANTE ÁGUA PARA MELHORAR A APRENDIZAGEM
Não existem evidências concretas que associem diretamente o consumo de água com uma melhor aprendizagem.
NEUROCIÊNCIA E APRENDIZAGEM - EDUCAÇÃO DE QUALIDADE
Ao analisarmos a relação entre neurociência e aprendizagem, pode parecer que este campo científico é uma panaceia para todos os problemas educacionais. Aqui fica um alerta: a neurociência é uma grande aliada para compreender e diagnosticar problemas, no entanto, ela não oferece uma fórmula pronta para um plano pedagógico incrível ou métodos de ensino infalíveis.
É preciso lembrar que a neurociência permite a compreensão de forma abrangente do desenvolvimento da criança, o que envolve a integração entre o corpo e o meio social. Não apenas o cérebro, mas os contextos social, político, cultural e econômico do estudante precisam ser considerados para oferecer um ensino de qualidade.
O professor deve unir a experiência em sala de aula com o conhecimento, mantendo-se sempre atualizado sobre os últimos estudos da pedagogia, neurociência e aprendizagem. Uma especialização é o primeiro passo para conseguir de maneira confiável as informações necessárias para transformar a educação.
TRANSTORNOS DE APRENDIZAGEM EXPLICADOS PELA NEUROCIÊNCIA
Os transtornos de aprendizagem são definidos como distúrbios de neurodesenvolvimento. As condições neurológicas aparecem cedo na infância, antes mesmo da criança ir para a escola. Geralmente, elas prejudicam a aquisição, manutenção e aplicação de habilidades ou informações específicas.
Os transtornos de aprendizagem podem afetar as capacidades de atenção, memória, percepção, linguagem, solução de problemas ou interação social. Na prática, o estudante que apresenta algum distúrbio de neurodesenvolvimento dá estes sinais em sala de aula:
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Dificuldade em compreender ou utilizar a linguagem falada;
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Dificuldade em compreender ou usar a linguagem escrita;
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Dificuldade em compreender ou usar números e raciocínio usando conceitos matemáticos;
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Dificuldade em coordenar movimentos;
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Dificuldade em prestar atenção em uma tarefa.
Não existe uma causa única para uma criança apresentar um transtorno de aprendizagem, contudo, questões genéticas geralmente estão envolvidas. Exposição a toxinas ambientais, desnutrição severa, traumas e privação social grave podem desencadear a condição.
Os transtornos de aprendizagem mais comuns são:
D I S L E X I A
A dislexia é um termo geral que engloba distúrbios de leitura, matemática, ortografia, expressões escritas ou manuscritas, compreensão ou uso da linguagem verbal ou não verbal. Segundo a Associação Brasileira de Dislexia (ABD), o problema atinge cerca de 10% da população mundial, sendo 7% somente no Brasil. Caracterizada como um transtorno específico de aprendizagem, a dislexia afeta a capacidade da criança na leitura, escrita, decodificação e interpretação de letras e palavras. A primeira infância (de zero a seis anos) é o período em que são absorvidos os conhecimentos necessários para a formação intelectual e acadêmica do pequeno, por isso é muito importante reconhecer os sintomas precocemente e buscar um diagnóstico preciso.
A dislexia tem origem neurobiológica, com incidência genética, ou seja, é hereditária e pode haver vários casos – em diferentes graus – na família. As suspeitas começam com as observações dos pais dentro de casa, como o bloqueio da comunicação e na hora de expor ideias, além de reclamações que os filhos fazem em relação à escola, como não entender o que a professora fala, não conseguir ler ou ler com muito mais dificuldade do que os coleguinhas (veja os principais sintomas abaixo).
Depois da suspeita, a família deve encaminhar a criança para uma equipe multidisciplinar, a qual conta com o trabalho de neuropediatras, neuropsicólogos, psicopedagogos e fonoaudiólogos, que irão fazer exames neurológicos e vários testes de leitura e conversação para o diagnóstico final.
De olho nos (possíveis) sintomas do Dislexo
Na primeira infância – de zero a seis anos:
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Dispersão
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Atraso na fala
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Inversões ou omissões de sílabas ao falar
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Dificuldade em memorizar músicas, recados ou frases que precisam ser lembradas
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Objeção a materiais gráficos
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Confusão com quebra-cabeças ou atividades lúdicas que envolvam noção espacial
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Esquecimento rápido de nomes de objetos e pessoas
A partir de sete anos – idade escolar:
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Dificuldade com leitura e interpretação de textos
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Desatenção e dispersão
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Pouca memorização (faz contas nos dedos e não consegue decorar a tabuada)
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Confusão com esquerda e direita
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Vocabulário com sentenças curtas e imaturas
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Dificuldade em copiar de livros e lousa
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Desorganização
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Atrasos na entrega de tarefas
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Inversão de letras ou escrita espelhada
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Inversão de números
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Falta de habilidade para ler mapas, dicionários, listas telefônicas…
Tipos de dislexia
– Adquirida: origina-se de algum processo de deterioração do cérebro ou episódio traumático, como Alzheimer e outras doenças degenerativas, infartos ou acidentes cerebrais, por exemplo.
– De desenvolvimento: é quando a criança nasce com a dislexia, em que o distúrbio afeta a habilidade de leitura e escrita, bem como outros aspectos de linguagem.
– Fonológica: acontece quando a dislexia é gerada por um problema fonológico, ou seja, por falha na percepção dos sons das letras.
– Superficial: caracteriza-se por uma dislexia que ocorre por falha na percepção da forma visual de letras e palavras, ou seja, a criança comete erros de omissão, adição ou substituição de letras, palavras ou sílabas. Quem sofre com esse tipo de distúrbio tem mais problemas ortográficos na idade escolar, já que a criança se baseia em informações que ela escuta.
– Profunda ou mista: é quando a dislexia ocorre pelas duas formas ao mesmo tempo, em que há erros de compreensão tanto no processo auditivo quanto no visual. Isso que dizer que a criança tem bastante dificuldade em reconhecer o som e interpretar o significado das palavras, principalmente as abstratas.
O que fazer com o diagnóstico em mãos
A dislexia não é uma doença, muito menos uma deficiência. Trata-se de uma disfunção neurológica no processamento visual-fonológico da leitura. Por isso, não há apenas um tipo de tratamento, mas sim um conjunto de orientações de diferentes profissionais para que a criança se adapte e alcance seu potencial por meio de outras formas de aprendizado e captura de informações.
Os tratamentos, de acordo com cada caso e sempre que possível, devem ser multidisciplinares com a presença de médico, pedagogo, fonoaudiólogo, psicólogo e outros que se fizerem necessários. Com ajuda especializada e de forma progressiva, a criança vai conseguir assimilar conteúdos e aprender sem necessidade restrita à leitura.
Ouvir os textos, falar em voz alta o que lê, fazer provas apenas oralmente, usar meios de comunicação sem letras (como as cores) para memorizar informações ou se organizar, utilizar-se de programas onde os textos são apresentados com mais nitidez e contraste são formas variadas que o disléxico pode buscar para poder memorizar e trabalhar informações. “Em casos de a criança ser pequena (antes dos 6 anos), os pais podem encaminhá-la à terapia com fonoaudiólogo especializado e adotar meios de alfabetização que tenham elementos de metodologia fônica e multissensorial”, explica Dr. Clay Brites.
O papel da família
Ter o cuidado de não rotular a criança disléxica como preguiçosa ou vê-la como deficiente é fundamental para que não se desenvolvam estigmas que possam piorar o quadro e comprometer sua socialização e autoestima. Além disso, o portador desse distúrbio precisa muito do apoio dos pais e de toda a família, que podem ajudar o pequeno com treinos de leitura (ler em voz alta para auxiliar na compreensão das palavras), bem como estimulação de jogos e brincadeiras com letras, fazendo reconhecimento de palavras e sons.
Qual diferença de TDH, TDAH e DISLEXIA?
Para deixar claro: o TDH e TDAH afetam as habilidades de atenção do indivíduo e a dislexia está ligada especificamente às habilidades de linguagem e escrita. Ambos, quando não diagnosticados na infância, podem trazer dificuldades na idade adulta.
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Todas três são conhecidas como transtornos de desenvolvimento;
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Todas são caracterizadas pela dificuldade de atenção, memorização, organização e concentração;
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Todas têm sintomas que afetam a interação social, desempenho acadêmico e o aprendizado escolar;
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Podem aumentar o risco de ansiedade, depressão ou demais transtornos.
O tratamento e diagnóstico para todos esses transtornos, é feito por um psicólogo ou psiquiatra sendo que o profissional avalia os sintomas e histórico do paciente para assim, realizar um diagnóstico preciso e indicar o tratamento mais adequado. Assim, é importante buscar ajuda profissional assim que os sintomas forem observados, afinal, todos esses transtornos podem afetar de diferentes formas o dia a dia e relações interpessoais.
Dislexia Fonológica
A dislexia fonológica é caracterizada pela incapacidade de decodificação de sons, manifestando-se por meio de um desempenho ruim na leitura de estímulos não familiares e na invenção de palavras. Crianças com este transtorno de aprendizagem apresentam dificuldades em tarefas de memória de curto prazo, enquanto na leitura se baseiam no reconhecimento da palavra inteira, por terem dificuldade em relacionar os grafemas aos fonemas. Em geral, os indivíduos que sofrem de dislexia fonológica têm um distúrbio seletivo da capacidade de ler palavras desconhecidas ou pseudopalavras, enquanto mantém sua capacidade de ler palavras familiares. Por exemplo, teriam dificuldade em ler “amoroso”, mas poderiam ler a palavra “amor” sem qualquer problema.
Isso nos mostra que a rota danificada é o caminho fonológico. Portanto, as pessoas que sofrem de dislexia fonológica seriam incapazes de traduzir as palavras de grafema a fonema. E, portanto, teriam dificuldade em ler as palavras, desconhecidas ou inexistentes, que não sejam familiares. Por outro lado, uma vez que a rota direta está intacta, não terão nenhum problema para ler palavras conhecidas ou familiares.
Nesses indivíduos também há uma dificuldade adicional para ler palavras funcionais (o, a, um, ante…). Provavelmente, isso acontece porque elas são muito abstratas e não têm conteúdo. Mas os resultados das pesquisas são confusos, e devemos ter cuidado com a dislexia fonológica; uma vez que pode haver mais danos do que aqueles que afetam diretamente a via fonológica.
Dislexia Superficial
Neste tipo de dislexia, as pessoas têm dificuldade em reconhecer as formas e estruturas das palavras, ou seja, de reconhecer a palavra pela rota lexical. Em sala de aula, estudantes com dislexia superficial geral substituem, adicionam ou omitem as letras de palavras. Acabam tendo uma maior dificuldade com ortografia e guiam-se principalmente pela informação auditiva.
De modo geral, os indivíduos diagnosticados com este tipo de Dislexia, têm uma deficiência seletiva na capacidade de ler palavras com pronúncia irregular. Este é um tipo de dislexia que não aparece em todos os idiomas, porque nem todos os idiomas possuem palavras com pronúncia irregular. Por exemplo, o espanhol não tem, mas o inglês sim. Uma manifestação desta dislexia seria encontrada na dificuldade de pronunciar “steak” (irregular) frente a “speak” (regular).
A dislexia superficial se encaixa com um dano na rota visual ou de acesso direto às palavras. Podem ler perfeitamente as palavras regulares, através de uma tradução de cada grafema a fonema, mas com as palavras irregulares, essa estratégia não é útil. Eles também não têm problemas para ler palavras inexistentes ou pseudopalavras, o que é mais uma evidência de dano na rota de acesso direto.
Outro aspecto chave desta dislexia é que a capacidade semântica não está danificada. Inclusive, se não são capazes de ler a palavra corretamente, ainda podem compreendê-la se lhes dizem em voz alta e pronunciam corretamente. Assim, o dano é restrito apenas à capacidade de leitura do indivíduo.
Dislexia Profunda
À primeira vista, parece que a dislexia superficial e a fonológica esgotam as possibilidades das consequências de uma lesão em um modelo de duplo caminho. No entanto, há mais um modelo dentro dos tipos de dislexia: a dislexia profunda. Apesar da sua semelhança com a dislexia fonológica, possui uma característica que a define: as paralexias semânticas.
A paralexia semântica ocorre quando o sujeito, ao invés de ler a palavra escrita, produz uma palavra diferente, mas com um significado relacionado com a original. Por exemplo, diante da palavra escrita “filha”, é provável que o paciente diga a palavra “irmã”. É um fenômeno muito interessante, que nos indica a existência de lesões na hora de determinar a semântica das palavras.
Outro aspecto chave que nos mostra o dano semântico é que a imaginação da palavra mostra o grau de dificuldade de leitura. Quer dizer, em conceitos para os quais é difícil construir uma imagem mental haverá uma pior performance de leitura; em vez disso, nos conceitos que são fáceis de representar mentalmente o desempenho de leitura será melhor. Isso nos mostra que existem dificuldades na hora de buscar a palavra dentro da rede semântica. E, por isso, quanto mais dados mentais tivermos disponíveis sobre ela, mais fácil será localizá-la e lê-la.
A dislexia é um distúrbio complexo que nos fornece muitas informações sobre como funciona nossa capacidade de se relacionar com a linguagem. Compreender os diferentes tipos ou categorias nos ajuda a entender a estrutura e a funcionalidade do idioma. Por esta razão, o estudo e a pesquisa exaustiva são essenciais se quisermos compreender em profundidade os fundamentos da comunicação e detectar a origem de possíveis falhas na mesma.
Disgrafia e Disortografia
O que é Disgrafia
Esse transtorno de aprendizagem traz prejuízos na expressão escrita, devido à alteração funcional do componente motor do ato de escrever. Ou seja, alguém com disgrafia tem problemas de caligrafia, no traçado e na forma das letras. É importante ressaltar que o estudante que apresenta a disgrafia tem um desenvolvimento intelectual normal.
A disgrafia se manifesta em habilidades de escrita aquém do esperado para a faixa etária. Geralmente, a criança não consegue escrever na velocidade exigida e tem dificuldades em alinhar, espaçar e dimensionar letras e palavras.
Lembrando que a escrita caligráfica envolve habilidades percepto-motoras e cognitivas, o que acaba por impactar o desempenho acadêmico e psicossocial do indivíduo.
A caligrafia de uma pessoa com disgrafia é muito ilegível. Na alfabetização, as crianças demoram muito para aprender a escrever. Se precisam registrar rapidamente as informações por escrito, produzem uma escrita desajeitada, confusa e ilegível, até para ela própria.
Na adolescência e na idade adulta, escrever é um meio de transmitir informações para outras pessoas. Se a escrita for ilegível e não cumprir esta função, é preferível mudar o tipo de escrita, usando letras maiúsculas em vez da letra cursiva, por exemplo. Além disso, uma pessoa com disgrafia tem o direito de adaptar a sua escrita na escola e escrever em letras maiúsculas ou no computador.
O que é Disortografia
A disortografia é um transtorno de escrita. O texto escrito por uma pessoa com disortografia tem vários erros que são cometidos repetidamente e não se relacionam com suas habilidades intelectuais. É um transtorno de aprendizagem específico que se manifesta em dificuldades na escrita, especialmente na gramática. Os erros mais comuns que as pessoas com disortografia cometem são: omitir letras nas palavras, esquecer de marcas diacríticas, substituir sílabas, confundir sons (por exemplo, c, s / z, b / p, g / k, m / n, h) e aplicação incorreta de regras gramaticais.
Às vezes, o problema é que uma pessoa com disortografia não escuta o som correto ou não tem consciência dos sons que compõem uma palavra. Ela pode ouvir e entender a palavra na totalidade. Outras vezes, é uma situação em que a aplicação automática rápida de regras gramaticais não funciona, o que pode parecer um paradoxo, porque a pessoa pode explicar a regra quando solicitada, mas ao escrever uma frase que combina regras gramaticais diferentes, comete um erro na mesma regra que acabou de explicar.
Assim como na dislexia, é importante perceber quais são as melhores circunstâncias para a pessoa escrever, de forma que o número de erros no texto seja minimizado (como é o caso da dislexia e da disgrafia, os alunos com disortografia têm o direito de ter as condições de estudo adaptadas nas escolas). Às vezes, ele só precisa de tempo para realizar um trabalho, outras, de digitar no computador usando a opção de Autocorreção. Se o conteúdo da mensagem é muito importante, é melhor outra pessoa ler o texto e corrigir os erros que a pessoa não vê.
Outro truque que às vezes funciona é ler o texto ao contrário, para podermos ler as palavras como são escritas, mas a partir do final de uma frase ou parágrafo, portanto, não podemos nos concentrar no conteúdo da mensagem, mas apenas em cada palavra separadamente.
Diagnóstico e tratamento dos transtornos de escrita
A disortografia pode surgir isoladamente ou vir acompanhada da dislexia. Já as pessoas com dislexia, têm disortografia. Geralmente, os professores são os primeiros a perceber os sinais dos transtornos de escrita e, nesse caso, devem alertar as famílias e indicar uma avaliação com especialistas.
O fonoaudiólogo pode realizar o diagnóstico e indicar um tratamento para a disortografia, mas o acompanhamento com um psicopedagogo também é fundamental. A disgrafia pode ser diagnosticada e tratada por um terapeuta ocupacional, um psicomotricista ou mesmo um fonoaudiólogo, desde que especializado na área.
Caso a disgrafia seja diagnosticada, é importante realizar uma avaliação médica para ver se existem outras questões motoras envolvidas.
Discalculia
A discalculia compromete principalmente o aprendizado de matemática. Ela se manifesta na dificuldade em solucionar questões, estimar quantidades, memorizar números e reconhecer padrões. Geralmente, quem tem esse transtorno de aprendizagem também tem dislexia. Essa dificuldade de aprendizagem não é causada por deficiência mental, má escolarização, déficits visuais ou auditivos, e não tem nenhuma ligação com níveis de QI e inteligência.
Crianças portadoras de discalculia são incapazes de identificar sinais matemáticos, montar operações, classificar números, entender princípios de medida, seguir sequências, compreender conceitos matemáticos, relacionar o valor de moedas entre outros.
Ladislav Kosc descreveu seis tipos de discalculia: a discalculia léxica, discalculia verbal, discalculia gráfica, discalculia operacional, discalculia practognóstica e discalculia ideognóstica.
Discalculia léxica: dificuldade na leitura de símbolos matemáticos;
Discalculia verbal: dificuldades em nomear quantidades matemáticas, números, termos e símbolos;
Discalculia gráfica: dificuldade na escrita de símbolos matemáticos;
Discalculia operacional: dificuldade na execução de operações e cálculos numéricos;
Discalculia practognóstica: dificuldade na enumeração, manipulação e comparação de objetos reais ou em imagens;
Discalculia ideognóstica: dificuldades nas operações mentais e no entendimento de conceitos matemáticos.
Para que o professor consiga detectar a discalculia em seu aluno é imprescindível que ele esteja atento à trajetória da aprendizagem desse aluno, principalmente quando ele apresentar símbolos matemáticos malformados, demonstrar incapacidade de operar com quantidades numéricas, não reconhecer os sinais das operações, apresentar dificuldades na leitura de números e não conseguir localizar espacialmente a multiplicação e a divisão.
Caso o transtorno não seja reconhecido a tempo, pode comprometer o desenvolvimento escolar da criança, que com medo de enfrentar novas experiências de aprendizagem adota comportamentos inadequados, tornando-se agressiva, apática ou desinteressada.
O psicopedagogo é o profissional indicado no tratamento da discalculia, que é feito em parceria com a escola onde a criança estuda. Geralmente os professores desenvolvem atividades específicas com esse aluno, sem isolá-lo do restante da turma."
Anarritmia
Transtorno de aprendizagem caracterizado pela dificuldade em formar conceitos básicos e adquirir aptidões de computação.
Afasia Anômica
A afasia anômica manifesta-se na dificuldade em recordar palavras e recuperar informações da memória. Quem tem este transtorno de aprendizagem geralmente tem uma linguagem expressiva fluente, porém não consegue evocar palavras específicas. Ela acaba por recorrer a circunlóquios e palavras gerais para se comunicar, tanto na fala quanto na escrita.
A afasia nominal é um tipo de afasia, ou comprometimento da linguagem adquirida, caracterizada por uma grave dificuldade de lembrar nomes ou palavras. A condição também é às vezes chamada de afasia anômica, amnésica ou amnéstica, ou anomia.
Geralmente é causada por traumatismo cranioencefálico, tumor cerebral ou acidente vascular cerebral. Uma dificuldade menos severa de lembrar nomes ou palavras é chamada de disnomia. O lobo parietal é responsável por integrar as informações sensoriais, enquanto o lobo temporal é responsável pelo processamento das informações auditivas, bem como da semântica na fala e na visão. O dano envolve um colapso nas vias neurais do cérebro.
Pacientes com afasia nominal podem usar circunlocução, uma forma indireta de falar, para descrever coisas que eles não conseguem lembrar da palavra. Eles normalmente reconhecem objetos e sabem para que servem ou como usá-los, mesmo quando não conseguem se lembrar de seus nomes. Por exemplo, um afásico nominal pode se referir à tesoura como “uma ferramenta usada para cortar papel ou cabelo”. Aqueles que têm essa forma de afasia geralmente compreendem a que palavras se referem na fala de outras pessoas, embora eles próprios não consigam se lembrar delas. Hesitação ao falar e demonstrações de frustração também são comuns. A condição não está associada a nenhuma perda de inteligência ou memória, além da memória de palavras, e as pessoas com esse problema geralmente podem realizar tarefas não relacionadas à fala, como dirigir um carro, assim como pessoas saudáveis.
A afasia nominal às vezes afeta apenas uma parte da capacidade do paciente de lembrar palavras e nomes. Por exemplo, o paciente pode ter dificuldade apenas em lembrar os nomes dos objetos do lado direito do campo visual, mas não do lado esquerdo, ou vice-versa. Algumas pessoas têm dificuldade em lembrar palavras de conteúdo, como nomes de objetos, enquanto outras têm dificuldade apenas em palavras funcionais como “em” e “o”. Alguns pacientes têm mais problemas para lembrar nomes próprios do que outros substantivos, ou mostram igual dificuldade para lembrar os dois. Alguns afásicos nominais são capazes de distinguir cores, mas não conseguem lembrar seus nomes; essa condição é chamada de anomia de cor.
Existem diferentes tipos de afasias, de acordo com o predomínio das alterações numa ou outra das vertentes da linguagem (expressão, compreensão, repetição e denominação) e os mecanismos linguísticos conservados. Vejamos:
Afasia global ou total
É a forma mais grave de afasia como resultado de uma destruição massiva das zonas da linguagem. Caracteriza-se por uma importante afetação da expressão e da compreensão verbal. Com frequência o paciente apresenta mutismo ou emite sempre a mesma palavra (estereotipia). A repetição é nula. Os pacientes com este tipo de afasia podem apresentar uma atitude de desinteresse para o âmbito e sem intenção comunicativa, chegando a olhar com estranheza quando se tenta interagir com ele. Não podem falar e não podem compreender nada, permanecendo inexpressivos e alheios ao que acontece à sua volta.
Afasia motora ou de Broca
Caracteriza-se por uma expressão verbal não fluida e diminuída, com esforço para falar, frases reduzidas, alteração da prosódia e supressão de enlaces gramaticais (agramatismo). A capacidade de repetição está alterada, bem como a evocação de nomes de objetos ou figuras (anomia). A compreensão da linguagem falada é sempre melhor que a produção, podendo apresentar algumas dificuldades para compreender relações sintáticas mais elaboradas. Por exemplo, o paciente pode dizer alguma palavra e compreende a maioria das coisas que se lhe dizem. A escritura e a leitura também são habitualmente defeituosas, com numerosos erros na ortografia e de omissão de letras.
Afasia sensorial ou de Wernicke
Caracteriza-se por um predomínio dos transtornos da compreensão, sendo a articulação e a fluência normais na maioria dos casos. A expressão verbal está habitualmente aumentada, com certo grau de excitação e um desconhecimento do defeito por parte do paciente. Mesmo que a produção oral se realize sem esforço, com boa articulação e prosódia, predominam os vocábulos ininteligíveis (transformações afásicas ou parafasias) que conduzem a uma gíria difícil de entender e com um conteúdo vazio.
Nos casos em que não se dá uma expressão excessiva (verborreia) salienta-se a falta de vocábulos (anomia). Também se encontram afetadas a capacidade de repetição e a denominação. O transtorno da compreensão é o mais significativo, embora com uma intensidade variável segundo a gravidade da lesão. Por exemplo, o paciente compreende muito mal o que se lhe diz e, mesmo que possa expressar-se, resulta difícil entender por utilizar palavras “estranhas” ou inadequadas, parecido com uma língua estrangeira, por isso resulta difícil manter uma conversa. A leitura e a escritura também estão alteradas. Embora exista capacidade para escrever, estes pacientes exprimem-se por escrito como falam, portanto a escritura é habitualmente difícil de entender.
Afasia de condução
Caracteriza-se por uma linguagem expressiva fluente, com certa anomia e parafasias, bem como uma capacidade de repetição alterada. Os pacientes podem apresentar dificuldades para compreender material mais complexo. Neste caso, os pacientes podem falar e compreender com relativa normalidade, mas com algumas pausas ao falar por não encontrar a palavra adequada ou substitui-la por uma outra que não corresponde, apresentando maiores dificuldades na altura de repetir. A leitura também se encontra muito afetada, no entanto os grafismos de escritura estão preservados, mas com numerosos erros durante o ditado e espontáneamente.
Afasia motora transcortical
Caracteriza-se por uma linguagem expressiva espontânea muito reduzida (não fluente). A expressão realiza-se com esforço, sendo lenta e breve. A denominação de imagens está alterada, no entanto a capacidade de repetição é melhor. A compreensão pode estar relativamente preservada. Estes pacientes falam muito pouco e com esforço, mas repetem muito melhor. Também podem apresentar uma expressão escrita reduzida, no entanto a leitura oral e a compreensão leitora encontram-se preservadas, mesmo que possam estar dissociadas, ou seja, habitualmente não compreendem o que leem. Se o quadro melhora, pode chegar a evoluir para uma afasia anómica.
Afasia sensorial transcortical
Caracteriza-se por uma dissociação entre uma boa capacidade de repetição e um defeito na compreensão de palavras que o paciente pode repetir, isto é, os pacientes não compreendem o que repetem. A expressão verbal é fluente, em forma de gíria e com predomínio da ecolalia (repetição das palavras ouvidas). A compreensão oral está habitualmente muito afetada. Estes pacientes podem repetir muito bem, mas não são capazes de entender o que repetem. A capacidade leitora pode ser afetada em diferentes graus e a compreensão escrita habitualmente está gravemente alterada. A expressão escrita também aparece em forma de gíria difícil de entender, isto é, os pacientes escrevem como falam.
Afasia transcortical mista
Caracteriza-se pela preservação da repetição e uma grave afetação da expressão e da compreensão. A expressão verbal fica reduzida a ecolalias e não existe capacidade para denominar imagens. Neste caso, os pacientes não podem expressar-se bem nem compreender, mas podem repetir, recitar, completar palavras e frases… Tanto a leitura como a escritura e a compreensão leitora encontram-se muito afetadas.
Neurociência e aprendizagem na Primeira Infância
Como educar na fase de maior evolução do cérebro?
Como se sabe, são vários os fatores a serem considerados durante o processo de aprendizagem. Desde os mais amplos, capazes de nos separar por grupos como o de faixa etária até os individuais ditados pelas experiências de vida de cada um.
Em geral, todos eles possuem como base de estudos a neurociência, que é o estudo do sistema nervoso e suas funcionalidades. Através dela, é possível entender o processo de desenvolvimento do ser humano através do cérebro. E justamente devido à complexidade do cérebro humano, é que esse estudo ainda divide-se em subcategorias como a neurociência cognitiva focada no conhecimento e raciocínio lógico ou mesmo a neurociência comportamental, que analisa o comportamento do indivíduo conforme fatores internos a níveis de emoção e pensamento. Há ainda outras subcategorias com outros focos.
Porém, um fator muito determinante para o estudo do cérebro é a idade, considerando que sua estrutura e processamento de informações também se modifica com o passar do tempo. São mudanças que ocorrem de maneira mais acentuada principalmente nas primeiras fases da vida. Para os educadores, o entendimento dessas fases é fundamental para o melhor direcionamento da aprendizagem. De maneira geral, as fases de desenvolvimento se organizam nos grupos: primeira infância (0 a 6 anos), segunda infância (7 a 11 anos), adolescência (12 a 21 anos), vida adulta (22 a 59 anos) e terceira idade (60 anos em diante).
Primeira Infância: uma grande oportunidade
A dica mais valiosa aos educadores sobre a neurociência na primeira infância está relacionada à plasticidade do cérebro. O que significa que os primeiros anos de vida representam a fase de maior abertura e absorção para se aprender coisas novas.
E apesar de os fatores genéticos entrarem na equação enquanto tendências intrínsecas, as experiências (fatores extrínsecos) também ditam os rumos de melhor ou pior aproveitamento na aprendizagem. Sendo assim, tanto os estímulos quanto sua falta irão impactar inclusive na estrutura do cérebro a longo prazo. O que vale tanto para o lado positivo quanto para o lado negativo, já que esse é um cérebro ainda vulnerável.
Especialmente no que se diz respeito às condições emocionais. Alguns eventos que ocorrem durante os primeiros anos, podem até ser esquecidos com o passar do tempo, mas impactam profundamente na maneira de viver e assimilar a realidade no futuro.
Há estudos comprovando que o amor materno por exemplo, pode ter amplos benefícios, pois mães mais afetuosas e que oferecem apoio emocional, ajudam no desenvolvimento do hipocampo, importante área cerebral, que cresce duas vezes mais rápido em crianças que em resumo, recebem mais carinho e amor do que aquelas que são tratadas com distanciamento. Mas ainda considerando a essência do papel familiar, não podemos negar que devido aos compromissos do mundo moderno, os pais não estão com seus filhos pequenos em tempo integral. Assim, a Educação Infantil tem sua parcela de influência relevante diante do convívio na escola. Ou seja, o que antes era apenas de responsabilidade da família, hoje também é um dos pilares da educação que considera o ser integral em todos os seus aspectos de desenvolvimento.
Formação Acelerada
Para entender melhor o nível de aproveitamento na Primeira Infância, o gráfico abaixo mostra que a formação de sinapses tem seu ápice nesta fase, de forma rápida e intensa.
Sinapses são regiões de proximidade entre neurônios e células vizinhas, por onde são transmitidos impulsos nervosos. Quando esses impulsos passam para células vizinhas, é possível que o cérebro responda aos sinais recebidos.
De acordo com a pesquisa “O impacto do Desenvolvimento na primeira Infância sobre a Aprendizagem”, realizada pelo Núcleo Ciência pela Infância: “Dessa maneira, a construção dos circuitos cerebrais é altamente influenciada pelas experiências no início da vida, diretamente mediadas pela qualidade das relações socioafetivas, principalmente pelas interações da criança com seus cuidadores. A aquisição de competências mais complexas no futuro depende de circuitos mais fundamentais que surgem nos primeiros meses e anos de vida. Isso é válido para as diferentes dimensões ligadas às funções cerebrais, sejam elas perceptuais, cognitivas ou emocionais”.
Como as crianças aprendem?
De fato, é incrível perceber como logo a partir do momento em que nascemos, somos capazes de assimilar tanta informação de maneira tão rápida e com tão pouco como base. É o que explica a cientista cognitiva Laura Shulz, em seu TED “A incrível Mente Lógica dos Bebês”, que você pode assistir completo aqui.
Através de alguns experimentos, ela mostra como os bebês são capazes de aprender por meio de generalizações de pequenas amostras. Ou seja, ao presenciar determinadas situações, eles criam suas próprias interpretações de acordo suposições lógicas. Conforme explica Laura: “Os bebês podem usar alguns dados estatísticos e decidir entre duas estratégias muito diferentes para agir no mundo: pedir ajuda e explorar.”
Mas além disso, ela indica que é preciso pensar a mente humana como algo mais amplo do que o cérebro e com um extremo potencial que não deve se deixar por conta do acaso: “As mentes humanas não aprendem apenas com pequenas quantidades de dados. As mentes humanas pensam novas ideias. Se investirmos nesses aprendizes mais poderosos e no desenvolvimento de bebês e crianças, mães e pais, cuidadores e professores da mesma maneira que investimos em outras formas poderosas e elegantes de tecnologia, engenharia e design nós não vamos apenas sonhar por um futuro melhor, vamos planejar um futuro.”
Foco na Experiência
Como vimos, essa fase está cercada de desafios e oportunidades, porém é importante entender que os pais e educadores, apesar de terem maior responsabilidade sobre uma criança pequena, não devem impedir sua capacidade de autonomia e nem mesmo de errar para aprender. Mesmo tão pequenos, eles já são capazes de tomar certas decisões e evoluem rapidamente. Uma das maneiras de trazer essa autonomia com segurança, é por meio da experiência lúdica. Seja por meio de histórias, jogos ou brincadeiras. Mas, especialmente algo com que eles tenham poder te interação e que possua real significado em suas vidas.
Nessa fase de intensa receptividade e imaginação aflorada, o lúdico é um poderoso recurso e pode ser apoiado em técnicas como o storytelling e até métodos metacognitivos que os estimulem a pensar de forma ampla. Afinal a liberdade de brincar e experimentar o mundo ao seu redor é o que os permite trabalhar sua imaginação e testar entendimentos muito antes de lidar com os obstáculos e objetivos maiores da adolescência e vida adulta. O que sabemos é que com certeza o aprendizado se estenderá e fará parte das bases em suas próximas etapas.
Em resumo, a Neurociência é responsável por estabelecer como o nosso cérebro atua e determina os mais variados comportamentos que todos nós expressamos durante nosso cotidiano; dentre elas, a aprendizagem infantil. Vale ressaltar que por muitos anos, atribuições ligadas à atividade humana, tal como a estrutura e a função dos processos psicológicos, além da percepção, memória, atividade intelectual, fala, movimento e a ação foram descritas e estudadas por inúmeras teorias psicológicas. Portanto, o estudo da Neurociência pode nos ajudar, como profissionais da educação, a responder as seguintes perguntas:
Como a neurociência pode contribuir com a Educação?
Por meio de pesquisas cada vez mais elaboradas e que visem à divulgação de evidências científicas. Interessante ressaltar que o resultado desses levantamentos devem ser utilizados pelos profissionais ligados à educação com o objetivo de unir o que fora descoberto pelas análises com o dia a dia das crianças. A Neurociência é um campo de estudo imprescindível.
Como é a divisão cerebral de acordo com a Neurociência?
– Área frontal: essa parte é responsável pelas funções executivas, onde ocorrem todos os processos que exigem planejamento, organização, sequencias, decisão, análise, síntese, atenção executiva (seletiva e sustentada), coordenação de estratégias (eleição de prioridades e ações secundárias), inibição comportamental, memória de trabalho, exibilidade de interesses, percepção de erros e construção das correções;
– Área temporal: a região é responsável pela percepção auditiva dos sons e das diferentes estruturações de linguagem fonológica, sendo o centro da toda a linguagem de nosso cérebro;
– Área parietal: essa parte está conectada à sensibilidade geral (tátil, propriocepção, dor, etc.), coordenação espacial, integração senso-perceptiva e orientação atencional;
– Área occipital: a região occipital está ligada a toda a habilidade visual sendo o centro das percepções visuais para as tarefas do cotidiano.
As divisões expostas acima mostram como o cérebro atua de forma complexa e coordenada em que uma parte depende da outra de maneira considerável.
Por que é importante o desenvolvimento de tais aspectos?
A importância de se desenvolver essas habilidades tão cedo tem um motivo nobre: a primeira infância é um momento crucial para progressos futuros. A primeira infância pode ser definida como uma etapa importante para o estabelecimento de determinadas habilidades fundamentais da criança.
O cérebro, com toda sua estrutura e processamento das informações mais variadas, modifica-se ao longo do tempo. Essas mudanças ocorrem de forma mais acentuada, sobretudo nas primeiras fases da vida, a primeira infância.
Esta fase é caracterizada pelo início de uma série de comportamentos e interação com o ambiente em que ela está inserida. A avaliação do desenvolvimento se revela um passo importante para vida do pequeno e de sua família.
É imprescindível conhecer quais os pontos existentes de fragilidade do perfil de aprendizagem. Além disso, é importante também salientar os aspectos do desenvolvimento que podem ser considerados como pontos fortes da criança.
Isso contribuirá de maneira bastante interessante, a ponto de os especialistas conhecerem qual o impacto dos déficits que afetam a criança; aliás, auxilia também na proposição de estratégias que podem ser mais efetivas para a aprendizagem infantil.
MARIO LOUZÃ
Médico psiquiatra; Dr. Clay Brites, neuropediatra; Dr. Roberto Debski, médico e psicólogo.
OLÍVIA BALDISSERA
Jornalista e historiadora. Mestre em História pela Universidade Federal do Paraná (UFPR).
ANTONIO BELELLI
Mestre em Educação, Neurocientista, Neuropedagogo, Psicopedagogo e Especialista em Educação
ALEJANDRO SANFELICIANO
Psicólogo especializado em processos de pesquisa.
PAULA LOUREDO
Graduada em Biologia
LAURA SHULZ
Cientista Cognitiva
CLÁUDIA DA SILVA E CAPELLINI
Artigo - Desempenho de escolares com e sem transtorno de aprendizagem em leitura, escrita, consciência fonológica, velocidade de processamento e memória de trabalho fonológica.
DIANA TERESO COELHO
Artigo - Dislexia, Disgrafia, Disortografia e Discalculia
EDUCADOR 360
Artigo