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Exaustiva e desafiadora, a indisciplina representa uma enorme dificuldade para o trabalho dos professores. Não existe solução fácil, mas não desanime! Neste trabalho, convidamos você a refletir sobre as causas do problema. Mas antes, temos que entender o que significa a palavra INDISCIPLINA. 

Denomina-se indisciplina à atitude que se relaciona com os deveres pessoais e que refletem na falta de ordem, na determinação e na projeção de metas.

 

Ela está presente em toda empresa e é responsável em boa parte por um grande número de fracassos pessoais. Quando a indisciplina se torna excessiva pode ser considerada uma alteração patológica que impede o comportamento adequando de uma pessoa na sociedade. Na verdade, o simples fato de existir um ambiente social faz com que o homem consuma recursos constantemente e os troque com os outros. Quando por algum motivo psíquico este tipo de interação é afetado negativamente, pode-se dizer que a pessoa é restringida de seu desenvolvimento e de plena integração.

A indisciplina é um hábito difícil de superar quando se apresenta desde a infância. Na verdade, para um criança é difícil entender que uma chamada de atenção serve para atender seu próprio interesse e que carece de uma visão pejorativa em relação a ela. É por isso que os educadores devem ser extremamente pacientes com seus alunos e tratá-los com delicadeza. Neste sentido, é importante que a pessoa afetada entenda que é necessário traçar metas e destinar parte de seu tempo para cumpri-las, não só pelos benefícios a receber, mas também pela autoestima que pode ocasionar. Toda área que deseja avançar, seja ela reconhecida ou não, exige a disponibilização de recursos e a organização de tempo para poder trabalhar livremente.

A indisciplina pode acontecer em muitas ocasiões pela falta de objetivos ou motivação em conquistar. Neste sentido, deve-se entender que o fracasso que ocorre principalmente quando criança é aquele de maior dificuldade a superar. O estabelecimento dos próprios objetivos, além daqueles que a sociedade nos impõe é fundamental para a disponibilização dos recursos necessários. Este tipo de circunstância dificilmente pode ser compensado com a imposição de prêmios e castigos externos que podem estar relacionados com os interesses e inclinações da pessoa em questão.

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Que a profissão docente passa por um momento delicado é algo reconhecido não apenas por quem faz da sala de aula o seu dia a dia, mas também pelos estudiosos que se debruçam sobre o assunto. Philippe Perrenoud, referência na sociologia da Educação, costuma afirmar que nunca foi tão difícil ser professor. Isso porque a escola passa por dois movimentos de mudança - ambos externos aos seus muros. Por um lado, cobram-se cada vez mais tarefas da instituição: ensino dos conteúdos regulares, temas transversais, cidadania, ética, Educação sexual e por aí vai. De outro, afirma o especialista, "as condições de exercício da profissão estão cada vez mais difíceis". 

Entre essas dificuldades, a indisciplina lidera  a lista de queixas. Várias pesquisa realizadas entre professores de todo o país revelou que 69% deles apontavam a indisciplina escolar e a falta de atenção entre os principais problemas da sala de aula. Só quem sente na pele a questão no cotidiano tem a real dimensão de como o problema é desgastante, levando ao desestímulo com com a profissão e, muitas vezes, até ao abandono.

 

Mas, calma. Respire. É possível, sim, virar esse jogo. Quer conseguir uma turma atenta e motivada? Sim, é possível. Na maioria das vezes, trata-se de um trabalho de longo prazo, com avanços e recuos e rediscussões permanentes, em que o trabalho em equipe é essencial. Não há receita mágica, mas muitos caminhos para chegar lá.

 

Este artigo pode servir como porta de entrada para o assunto. Nele, fazemos um convite: é hora de rever sua ideia de indisciplina e o que há por trás dela. A proposta de reflexão é a seguinte: Será que existe algo que você pode transformar em sua prática pedagógica para diminuir o problema?

Para que você avance nessa reflexão, é preciso entender que a indisciplina é a transgressão de dois tipos de regra.

1- O primeiro tipo são as regras morais, construídas socialmente com base em princípios que visam o bem comum, ou seja, em princípios éticos. Por exemplo, não xingar e não bater. Sobre essas, não há discussão: elas valem para todas as escolas e em qualquer situação.

2- O segundo tipo são as chamadas regras convencionais, definidas por um grupo com objetivos específicos. Aqui entram as que tratam do uso do celular e da conversa em sala de aula, por exemplo. Nesse caso, a questão não pode ser fechada. Ela varia de escola para escola ou ainda dentro de uma mesma instituição, conforme o momento.

 

Afinal, o diálogo durante a aula pode não ser considerado indisciplina se ele se referir ao conteúdo tratado no momento, certo?

É na distinção entre moralidade e convenção que podemos começar a trilhar um caminho promissor. Na prática, separar uma coisa da outra não é fácil. Frequentemente, mistura-se tudo em extensos regimentos que pouco colaboram para manter o bom funcionamento da instituição e o clima necessário à aprendizagem em sala de aula.

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"A situação piora ainda mais se essas convenções se baseiam em permissões, proibições e castigos sem nenhum tipo de negociação", explica Ana Aragão, da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Os cartuns do adorável Calvin, criação do norte-americano Bill Waterson, exploram com maestria essa constante ( clique aqui para acessar uma galeria com mais de 150 tirinhas).

Mas, e na vida real? Existe algum jeito de driblar essas situações que só tem graça no papel? Sim, e seu papel é fundamental. É o que discutimos na continuação deste texto.

O movimento contínuo de construção e reavaliação de regras, mais o respeito a elas, é a base de todo convívio em sociedade. Da mesma forma que os conflitos nunca vão deixar de existir na vida em comunidade - no contexto escolar, especificamente, eles também não vão desaparecer. Saber lidar com eles faz com que você consiga trabalhar melhor. "Esperar que os pequenos, de modo espontâneo, saibam se portar perante os colegas e educadores é um engano. É abrir mão de um dever docente", explica Luciene Tognetta, do Departamento de Psicologia Educacional da Faculdade de Educação da Unicamp. 

Mas muitos professores esperam que essa formação moral seja feita 100% pela família... "Não se trata de destituí-la dessa tarefa, mas é preciso enxergar o espaço escolar como propício para a vivência de relações interpessoais", pondera Áurea de Oliveira, do Departamento de Educação da Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" (Unesp), campus de Rio Claro.

As questões ligadas à moral e à vida em grupo devem ser tratadas como conteúdos de ensino. Caso contrário, corre-se o risco de permitir que as crianças se tornem adultos autocentrados e indisciplinados em qualquer situação, incapazes de dialogar e cooperar. Pesquisa de 2002 com 120 universitários, de Montserrat Moreno e Genoveva Sastre, da Universidade de Barcelona, indagou sobre a utilidade do que eles aprenderam na escola para a resolução de conflitos na vida adulta. Apenas 3% apontaram que os professores lhes ensinaram atitudes e formas específicas de agir. "Esses resultados certamente são próximos da realidade brasileira", afirma Luciene. "Nosso estilo de ensinar é parecido, pois joga pouca luz sobre o currículo oculto, aquele que leva em conta o sentimento do estudante, seus desejos, suas incompreensões."

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Saber como o ser humano se desenvolve moralmente é essencial para encontrar as raízes da indisciplina. Antes de entender por que precisam agir corretamente, as crianças pequenas vivem a chamada moral heterônoma, ou seja, seguem regras à risca, ditadas por terceiros, sem usar a própria consciência para reelaborá-las de acordo com a situação. Por exemplo: se elas sabem que não se deve derramar água no chão, julgam o fato um erro mesmo no caso de um acidente. Nessa fase, a autoridade é fundamental para o bom andamento das relações.

Por volta dos 9 anos, abre-se espaço para a construção da moral autônoma, quando o respeito mútuo se sobrepõe à coação. Mas a mudança não é mágica. O cientista suíço Jean Piaget (1896-1980) questionava a possibilidade de a criança adquirir essa consciência se todo dever sempre emana de pessoas superiores. Assim, é possível dizer que a autonomia só passa a existir quando as relações entre crianças e adultos (e delas com elas mesmas) são baseadas, desde a fase heterônoma, na cooperação e no entendimento do que é ou não é moralmente aceito e por quê. Sem isso, é natural que, conforme cresçam, mais indisciplinados fiquem os alunos.

Isso deixa claro que a rota de combate à indisciplina não passa, como pensam alguns, por uma volta à "rigidez de antigamente" - inflexível, que contava até mesmo com castigos físicos. O professor precisa, sim, de autoridade perante a classe. Mas ela só é conquistada quando ele domina o conteúdo e sabe lançar mão de estratégias eficientes para ensiná-los.

Se não, como bem descreve o psicólogo austríaco Alfred Adler (1870-1937), a Educação se reduz ao ato de o aluno transcrever o que está no caderno do professor sem que nada passe pela cabeça de ambos. "O resultado é o tédio. E gente entediada busca algo mais interessante para fazer, o que muitos confundem com indisciplina. A escola é, sem dúvida, a instituição do conhecimento, mas é preciso deixar espaço para a ação mental da turma", afirma Luciene.

Olhar para a sala de aula tendo como base essa concepção de indisciplina faz diferença. Os benefícios certamente serão maiores se houver o envolvimento institucional. Por isso, o trabalho exige não apenas autorreflexão mas também formação e esforço de equipe. Para transformar o ambiente, o discurso tem de ser constante e exemplificado por ações de todos (leia reportagem sobre como lidar com o problema e um projeto institucional para a formação da equipe).

BIBLIOGRAFIA


Crise de Valores ou Valores em Crise?, Yves de La Taille e Maria Suzana de Stefano Menin, 198 págs., Ed., Artmed, tel. 0800-7033-444, 38 reais
E Quando Chega a Adolescência - Uma Reflexão Sobre o Papel do Educador na Resolução de Conflitos entre Adolescentes, Vanessa Vicentin, 128 págs., Ed. Mercado de Letras, tel. (19) 3241-7514, 32 reais
Falemos de Sentimentos - A Afetividade como um Tema Transversal, Montserrat Moreno, Genoveva Sastre, Aurora Leal, Maria Dolors Busquets, 144 págs., Ed. Moderna, tel. 0800-172-002, 38,50 reais
Formação Ética - Do Tédio ao Respeito de Si, Yves de La Taille, 316 págs., Ed. Artmed, 54 reais
Indisciplina na Escola - Alternativas e Práticas, Julio Groppa Aquino (org.), 152 págs., Ed. Summus, tel. (11) 3872-3322, 33,90 reais
Limites: Três Dimensões Educacionais, Yves de La Taille, 152 págs., Ed. Ática, tel. 0800-115-152, 36,90 reais
O resgate da autoridade em educação, Gérard Guillot, 192 págs., Ed. Artmed, 44 reais
Quando a Escola é Democrática - Um Olhar Sobre a Prática das Regras e Assembleias na Escola, Luciene Regina Paulino Tognetta e Telma Pileggi Vinha, 144 págs., Ed. Mercado de Letras, 32 reais
Relação Pedagógica Disciplina E Indisciplina na Aula, Maria Teresa Estrela, 128 págs., Ed. Porto, www.portoeditora.pt, 53,17 reais (à venda na Livraria Cultura)
Resolução de Conflitos e Aprendizagem Emocional, Genoveva Sastre e Montserrat Moreno, 296 págs., Ed. Moderna, 44 reais

Internet
A Qualidade da Educação sob Olhar dos Professores, da Fundação SM e da Organização dos Estados Ibero-americanos (OEI) 
Tese de doutorado O Processo de Resolução de Conflitos entre Pré-Adolescentes: O Olhar do Professor, de Sandra Cristina Carina 
Tese de doutorado Os Conflitos Interpessoais na Relação Educativa, de Telma Vinha 
Dissertação de mestrado A Construção da Solidariedade em Ambientes Escolares, de Luciene Tognetta
Anais do I Congresso de Pesquisas em Psicologia e Educação Moral 
Texto A Dimensão Ética na Obra de Jean Piaget, de Yves de La Taille 
Texto Moralidade e Violência: A Questão da Legitimação de Atos Violentos, de Yves de La Taille 
Pesquisa Valores dos Jovens de São Paulo, da Fundação SM

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