Você não pode mudar o que sente, mas pode aprender o que fazer com seus sentimentos. Nós do LIV – Laboratório Inteligência de Vida – acreditamos nesse conceito e por isso levamos para escolas de todo o Brasil um programa de educação socioemocional que ajuda estudantes a conhecerem seus sentimentos e a desenvolverem habilidades para a vida.
Você não pode mudar o que sente, mas pode aprender o que fazer com seus sentimentos. Nós do LIV – Laboratório Inteligência de Vida – acreditamos nesse conceito e por isso levamos para escolas de todo o Brasil um programa de educação socioemocional que ajuda estudantes a conhecerem seus sentimentos e a desenvolverem habilidades para a vida.
Talvez você já tenha passado pela situação de não se sentir inteligente o suficiente, seja por não dominar uma disciplina ou não entender algum conceito. Mas com a teoria das múltiplas inteligências, o seu jeito de pensar sobre a sua própria inteligência vai mudar. Quando pensamos em inteligência, a primeira referência são as avaliações de aprendizagem nas escolas tradicionais e os testes de QI. Esses modelos usam cálculos baseados no desempenho em provas para quantificar o quanto uma pessoa é inteligente. Mas será mesmo que esse é o melhor método para medir as habilidades de alguém? Pesquisadores da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, acham que não.
No início dos anos oitenta, na Universidade de Harvard, Estados Unidos, o psicólogo Howard Gardner concluiu, através de suas pesquisas, que a inteligência humana é como um quebra-cabeça composto por nove peças, todas de mesmo valor e importância. Segundo Gardner, são características que classificam que tipo de inteligência cada pessoa possui, bem como quais as facilidades que essas trazem para nossa vida.
Antes dessa descoberta, a principal teoria que tratava da inteligência era a de Alfred Binet, que criou um teste de inteligência que media o QI (quociente de inteligência), mas sua área de atuação se limitava apenas à matemática e linguagem. A palavra inteligência tem sua origem na junção de duas outras palavras latinas, a palavra inter (entre) e a palavra legere (eleger ou escolher), ou seja, é a capacidade de fazer a escolha melhor entre duas ou mais situações.
As inteligências levantadas na pesquisa de Gardner saem dessas duas áreas e passam a ter uma área bem mais abrangente, sendo elas: linguística, lógico-matemática, espacial, existencial, musical, corporal-sinestésica, naturalista, interpessoal e intrapessoal, existentes no cérebro de todos os seres humanos, sendo que cada um tem as que são mais e menos desenvolvidas.
Para entender melhor, vamos usar um exemplo: imagine duas crianças da mesma turma de uma escola. Ao aplicar uma avaliação de matemática igual para as duas crianças, uma delas consegue resolver a prova rapidamente e ter um bom resultado. Já a outra criança demora mais e apresenta dificuldades para compreender o assunto.
É natural que a conclusão seja de que a primeira criança é mais inteligente que a outra por ter mais facilidade com a prova. Mas é esse o tipo de pressuposto que a teoria das múltiplas inteligências busca desmentir. Para Gardner, cada indivíduo tem habilidades e aptidões únicas e apresenta mais, ou menos, domínio em áreas diferentes do conhecimento. Assim, cada um desses domínios foi definido como um tipo diferente de inteligência que a pessoa pode desenvolver ao longo da vida.
O que é a teoria das múltiplas inteligências?
A teoria das múltiplas inteligências defende que o cérebro humano possui 9 tipos de inteligências. Porém cada indivíduo, na maioria dos casos, possui apenas uma ou duas inteligências desenvolvidas. Isso explica o fato de uma pessoa ser muito boa em cálculos e possuir dificuldades em dança, por exemplo. Ou ter facilidade para escrever texto mas não ter jeito nenhum com desenho.
Segundo Gardner, são raros os casos de uma única pessoa possuir todas as nove inteligências desenvolvidas, mas não é impossível. Uma personalidade conhecida que pode ser exemplo desses casos raros é Leonardo Da Vinci, que além de pintor (famoso pela Monalisa), foi também botânico, matemático, anatomista e inventor.
Para Gardner, cada pessoa demonstra habilidades cognitivas distintas. Ou seja, cada indivíduo tem um domínio maior em determinadas áreas do que outras. Desde então, essa descoberta tem tido um forte impacto na educação. Outro ponto de questionamento feito por ele foi o fato de que uma pessoa considerada genial não é um gênio em todas as áreas. Assim, a inteligência humana é mais específica do que generalista. Segundo o cientista todos nós nascemos com inteligências múltiplas, mas ao longo da vida, cada pessoa desenvolve uma ou duas áreas conforme as experiências que vivencia.
Qual é a definição de inteligência humana?
A inteligência humana é um potencial biopsicológico, por isso, para que ela se desenvolva, outros fatores devem ser levados em conta, como a genética e o contexto social em que a pessoa vive. Além disso, as pessoas podem apresentar mais de um tipo de inteligência ao longo da vida. Isso acontece porque, segundo Gardner, todos nós nascemos com todos os tipos de inteligências, que passam a ser desenvolvidas e estimuladas à medida em que nos tornamos adultos.
Mas o que foi levado em conta para definir o que é uma inteligência? Para determinar o que é uma inteligência, Gardner utilizou os seguintes critérios:
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Potencial prejuízo com dano cerebral – a possibilidade de perder a habilidade ou o domínio após danos na região cerebral responsável pela capacidade.
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Existência de gênios – para uma habilidade ser considerada uma inteligência, é preciso que existem pessoas que tenham um alto domínio sobre a área.
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Ter um conjunto de operações – a inteligência deve ser identificada a partir do uso de operações únicas, como a técnica musical ou habilidade com cálculos.
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Ser possível se especializar – é fundamental que exista a capacidade de melhoria contínua dessa inteligência através de especializações, treinos e ensaios.
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Ter uma história evolutiva – ao longo da história, outras pessoas devem ter apresentado e ajudado a evoluir a inteligência.
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Testabilidade – deve ser possível testar e avaliar a habilidade.
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Codificação – capacidade de utilizar conjuntos de códigos ou símbolos ou para identificar a inteligência.
Esses critérios foram fundamentais para diferenciar o que é um tipo de inteligência do que seria apenas uma simples habilidade que pode ser aprendida com treino. A diferença entre habilidade e inteligência está na facilidade e aptidão que algumas pessoas têm. Para que um domínio em uma área seja considerado uma inteligência, ele deve surgir naturalmente, sem a necessidade de um esforço excessivo.
Quais são os tipos de inteligências?
Os primeiros estudos de Howard Gardner definiram as inteligências múltiplas em nove tipos:
1. Inteligência Lógico-matemática,
2. Inteligência Linguística,
3. Inteligência Espacial
4. Inteligência Corporal-Cinestésica
5. Inteligência Interpessoal,
6. Inteligência Intrapessoal,
7. Inteligência Musical
8. Inteligência Naturalista
9. Inteligência Existencial
Posteriormente, a inteligência existencial foi incorporada nos estudos de Gardner. Vamos conhecer melhor como cada uma dessas inteligências se manifesta.
Inteligência Lógico-Matemática
O tipo de inteligência definida como lógico-matemática diz respeito à habilidade que o ser humano tem de lidar com raciocínios dedutivos e conceitos matemáticos. Pessoas com inteligência lógico-matemática elevada tem facilidade para resolver cálculos e podem se destacar nas áreas de exatas e programação. Esse tipo de inteligência foi utilizado como referência para os testes de QI e, por muito tempo, foi considerado padrão para avaliar o desempenho cognitivo de crianças.
Inteligência Linguística
A inteligência linguística está relacionada com a capacidade de se comunicar, aprender novas línguas e utilizar a linguagem de forma excepcional, seja na forma escrita ou oral. Escritores, jornalistas, linguistas, além de pessoas que têm facilidade para falar idiomas diferentes – os poliglotas – apresentam altos níveis de inteligência linguística.
Inteligência Espacial
O conhecimento espacial, ou visual, está ligado à habilidade de interpretar e criar imagens, seja através da cor, da forma, da textura ou do uso do espaço físico. É a inteligência presente em maior grau nas pessoas que desempenham atividades relacionadas a arquitetura, design, artes visuais, moda, entre outros.
Uma curiosidade é que a inteligência espacial está presente em grandes jogadores de xadrez, pois essa habilidade demanda um grande estímulo para a interpretação visual das infinitas possibilidades de movimentos em um tabuleiro.
Inteligência Corporal-Cinestésica
Atletas, dançarinos e atores são alguns exemplos de pessoas que usam a inteligência corporal-cinestésica a seu favor. Também conhecida como inteligência corporal, essa habilidade diz respeito ao controle do corpo e a execução de movimentos.
Mas não é apenas dançar bem ou decorar uma coreografia. Esse tipo de inteligência se relaciona com a compreensão do corpo e da capacidade de levá-lo ao limite.
Inteligência Interpessoal
A habilidade de se comunicar, persuadir e compreender o outro é conhecida pela teoria das inteligências múltiplas como inteligência interpessoal.
Normalmente encontrada em pessoas que ocupam espaços de poder e que têm facilidade de se expressar em público, como:
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políticos,
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religiosos,
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psicólogos,
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médicos
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e professores.
Inteligência Intrapessoal
A inteligência intrapessoal está ligada à capacidade de entender as próprias emoções, sentimentos e desejos. Em outras palavras, ter autocontrole e conhecer a si mesmo. Uma forma de estimular a inteligência intrapessoal é através da prática de meditação, exercícios físicos e atividades que estimulem o controle da mente e do corpo.
Inteligência Musical
A habilidade de reconhecer sons, melodias, acompanhar ritmos e tocar instrumentos está ligada ao que conhecemos como inteligência musical.Essa inteligência está presente no trabalho de músicos e compositores, mas também em dançarinos, produtores musicais e outros artistas.
Inteligência Naturalista
A inteligência naturalista está ligada ao profundo conhecimento da natureza e da aptidão para lidar com ela, seja no relacionamento com animais, no cultivo de plantas ou mesmo no conhecimento geológico.
Esse tipo de inteligência pode ser encontrado em agricultores que, muitas vezes, mesmo sem estudos, apresentam um grande domínio sobre o uso da terra e do cultivo.
Inteligência Existencial
A capacidade de refletir sobre aspectos da existência humana foi considerada uma das últimas inteligências múltiplas categorizadas por Gardner.
Essa inteligência está relacionada com grandes filósofos e pensadores, que se dedicaram a estudar conceitos da metafísica e do comportamento humano.
Como a teoria das múltiplas inteligências se aplica à educação?
Um dos grandes avanços que a teoria das múltiplas inteligências trouxe para a sociedade foi entender que a inteligência humana é algo muito mais amplo e complexo do que é possível compreender através de uma prova ou de um teste de QI. Cada pessoa tem suas limitações, personalidade e história de vida, por isso reduzir o desempenho a um único modelo de aprendizagem pode limitar a capacidade de demonstrar outras aptidões e habilidades.
Nas palavras de Howard Gardner, “O maior desafio é conhecer cada criança como ela realmente é, saber o que ela é capaz de fazer e centrar a educação nas capacidades, forças e interesses dessa criança”. Por isso, o caminho da educação está na personalização do ensino.
A educação personalizada leva em consideração que cada criança tem o seu jeito de aprender, seja através de leitura, de atividades dinâmicas ou até de expressões artísticas.
E uma das principais aliadas no processo de personalização do ensino é a tecnologia. Com ferramentas educacionais inovadoras, como metodologias ativas de aprendizagem, é possível indicar o melhor caminho para que o aluno aprenda, considerando as suas habilidades e inteligências individuais.
Ao analisar a importância das diversas formas de pensamento, os estágios de desenvolvimento de inteligências e as relações existentes entre esses estágios (no sentido de conhecimento e cultura), Gardner enfatiza sua teoria aplicada à educação. Quanto às avaliações, Gardner propõe uma distinção entre avaliação e teste. Segundo ele, a avaliação favorece métodos de levantamento de informações durante atividades diárias e comuns ao indivíduo avaliado, enquanto os testes (ou testagens) geralmente acontecem fora do ambiente conhecido do indivíduo alvo do teste.
Gardner afirma que é importante que se tire o maior proveito das habilidades individuais, estimulando os estudantes a desenvolverem suas capacidades intelectuais, e, a avaliação deve ser usada para informar o aluno sobre a sua capacidade e informar o professor sobre quanto este aluno está aprendendo, ao invés de simplesmente classificar, aprovar ou reprovar o aluno.
Também propõe que, se cada inteligência tem um certo número de processos específicos, esses processos têm que ser medidos com instrumentos que permitam entender a inteligência em funcionamento e deve ser feita em ambientes conhecidos, utilizando materiais conhecidos pelas crianças avaliadas.
O pesquisador também sugere avaliação das diferentes inteligências de acordo com manifestações culturais e ocupações adultas específicas. Desta forma, a habilidade verbal, mesmo na pré-escola, deve ser avaliada percebendo-se a habilidade para contar histórias ou relatar acontecimentos, ao invés de ser medida com testes de vocabulário. Quanto a habilidade espacial, ele propõe que não se meça isoladamente, mas observando as crianças durante uma atividade de desenho ou enquanto montam ou desmontam alguns objetos. Também propõe que a avaliação seja parte do processo educativo e do currículo, ocorrendo durante o processo, informando a cada período a maneira como o currículo deve se desenvolver e não sendo apenas um produto final do processo de educação.
Gardner relata dois pontos importantes sugerindo a necessidade de individualização. O primeiro é o fato dos indivíduos apresentarem perfis cognitivos muito diferentes uns dos outros, por isso, as escolas deveriam oferecer educação favorecendo o potencial individual de cada aluno, ao invés de oferecer uma educação padronizada. O segundo ponto é que enquanto na Idade Média um indivíduo podia pretender tomar posse de todo o saber universal, hoje em dia essa tarefa é totalmente impossível, sendo mesmo bastante difícil o domínio de um só campo do saber. Por isso, havendo necessidade de se limitar a variedade de conteúdos, que cada um possa escolher os conteúdos que lhe agradam de acordo com seu perfil intelectual individual.
Gardner ainda propõe, a respeito do ambiente escolar que se prepare os indivíduos de forma a prepará-los com conhecimentos de diversas disciplinas básicas para que os alunos utilizem seus conhecimentos no seu dia-a-dia de acordo com a comunidade onde vivem e a vida que levam e não fiquem limitados aos conhecimentos de raciocínios verbais e lógicos que, geralmente, as escolas se limitam a ensinar.
Como detectar o desenvolvimento das inteligências em crianças
Gardner chama de habilidade de padrão cru os estágios de desenvolvimento de inteligências. Os bebês já apresentam capacidade para perceber diferentes informações, o mundo e as pessoas ao seu redor. Eles já possuem potencial para desenvolver sistemas de símbolos, ou simbólicos.
Aproximadamente dos dois aos cinco anos de idade, ocorre o segundo estágio de simbolizações. As inteligências se revelam através dos sistemas simbólicos. Nesta fase a criança já demonstra sua habilidade (ou inabilidade) em cada inteligência por intermédio do uso e compreensão dos símbolos: a inteligência espacial por intermédio dos desenhos, a musical por intermédio dos sons, a linguística por intermédio das conversas ou histórias, e assim por diante.
Depois de ter adquirido alguma competência no uso das simbolizações básicas, a criança caminha para o estágio seguinte para poder adquirir níveis mais altos de destreza em domínios valorizados em sua cultura. Passam, então a compreender os sistemas simbólicos e aprendem os sistemas de segunda ordem, a grafia dos sistemas (a escrita, os símbolos matemáticos, a música escrita etc.). Nesta fase, os vários aspectos da cultura têm grande importância no desenvolvimento das crianças que irão aprimorar os sistemas simbólicos mais eficazes encontrados nas atividades mais valorizadas pelo seu grupo cultural. Assim, uma cultura que valoriza os esportes terá maior número de crianças se desenvolvendo nesta área, outra cultura que valoriza as artes, obviamente, terá maior número de crianças aptas a esta área e assim por diante.
Ao atingir a adolescência e a idade adulta, as inteligências passam a se perceber por intermédio de ocupações vocacionais (ou não-vocacionais) Nesta fase, o indivíduo adota um campo específico e focalizado, e se realiza em papéis que são significativos em sua cultura. É o que podemos chamar de indivíduo focado.
Como estimular as inteligências múltiplas?
O melhor caminho para estimular o desenvolvimento de diferentes tipos de inteligências das crianças é permitir que elas expressem livremente seus desejos e aptidões. Uma alternativa que escolas inovadoras podem implementar são currículos interdisciplinares, com propostas pedagógicas que utilizam metodologias ativas de aprendizagem e que colocam o aluno no centro do processo de ensino.
Para isso, o papel do professor dentro de sala de aula se modifica. O educador passa a assumir um lugar de orientador e facilitador do processo de ensino, ajudando a criança a encontrar e desenvolver suas habilidades. O estímulo ao desenvolvimento integral do aluno também deve fazer parte das avaliações de aprendizagem.
Conclusão
Neste artigo, você aprendeu que o ser humano desenvolve diferentes tipos de inteligência ao longo da vida. Além disso, o domínio de uma área do conhecimento não pode ser diminuído pela dificuldade em outra. Por isso, compreender as capacidades das pessoas é o primeiro passo para construir uma educação mais humanizada.
Ou seja, que esteja a favor do desenvolvimento de cada criança, e personalizar as trilhas de aprendizagem para estimular o melhor de cada estudante. Uma forma de fazer isso é utilizando metodologias ativas de aprendizagem.
BIBLIOGRAFIA
GARDNER, H. Inteligências Múltiplas: a Teoria na Prática. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.