Você não pode mudar o que sente, mas pode aprender o que fazer com seus sentimentos. Nós do LIV – Laboratório Inteligência de Vida – acreditamos nesse conceito e por isso levamos para escolas de todo o Brasil um programa de educação socioemocional que ajuda estudantes a conhecerem seus sentimentos e a desenvolverem habilidades para a vida.
Você não pode mudar o que sente, mas pode aprender o que fazer com seus sentimentos. Nós do LIV – Laboratório Inteligência de Vida – acreditamos nesse conceito e por isso levamos para escolas de todo o Brasil um programa de educação socioemocional que ajuda estudantes a conhecerem seus sentimentos e a desenvolverem habilidades para a vida.
O transtorno de conduta afeta, principalmente, crianças e adolescentes. Ele é caracterizado por padrões recorrentes de comportamento que violam os direitos de outras pessoas. Esses, por sua vez, se manifestam em graus variados. Cerca de 10% das crianças apresentam essa condição. Quando é identificado na infância, os resultados do tratamento costumam ser melhores. Entretanto, devido às particularidades desta condição, nem sempre é possível amenizar os sintomas somente com a psicoterapia.
O que é Transtorno de Conduta?
O transtorno de conduta é uma das condições psiquiátricas mais comuns na infância e na adolescência. Ele consiste em comportamentos inadequados e que causam desconforto no ambiente familiar e escolar, além dos círculos sociais frequentados pela criança ou adolescente.
A criança age de modo egoísta e violento. Ela não demonstra sentir remorso ou constrangimento por suas atitudes inconvenientes, além de não se importar em ferir os sentimentos de outras pessoas. Logo, seus comportamentos causam um impacto emocional e psicológico maior em quem é alvo deles do que em si mesma.
Durante a adolescência, essas condutas impróprias podem resultar em problemas com a lei. O adolescente pode furtar, agredir, ameaçar, causar incêndios, arrombar ou destruir propriedades alheias, fugir de casa e apresentar outros comportamentos considerados socialmente inadequados. Em ambos os casos, não há indícios de aprendizado com as consequências de suas ações negativas. Mesmo quando essas são muito desagradáveis, a criança ou o adolescente não demonstra ter aprendido nada com a experiência.
Para os pais e outros familiares, a aparente falta de empatia é preocupante. Não é comum não apresentar remorso, principalmente quando se faz algo ruim intencionalmente. Não raro os responsáveis pela criança ou pelo adolescente temem ficar perto deles, pois não sabem o que motiva esses comportamentos inadequados.
Como identificar o Transtorno de Conduta
Para o comportamento da criança ser considerado resultado de uma condição psiquiátrica, os sintomas do transtorno de conduta infantil devem perdurar por, pelo menos, seis meses. Os principais indicativos são:
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Desobedecer a regras familiares;
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Iniciar brigas na escola ou em casa por motivos pequenos;
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Furtar objetos;
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Fazer provocações ou ameaças;
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Ter acessos de raiva ou crises de choro;
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Gritar ou fazer birra;
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Praticar bullying;
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Isolar ou perseguir colegas de classe;
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Ser cruel com animais;
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Destruir objetos, materiais escolares ou brinquedos;
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Mentir;
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Manipular;
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Desrespeitar as regras da escola;
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Não se importar com as consequências de seus atos.
Já nos adolescentes, como eles possuem mais liberdade de circulação, os seus comportamentos inadequados tendem a ser mais impactantes. Além disso, costumam afetar outras pessoas, como vizinhos, familiares de amigos, professores e outras figuras de autoridade para esta faixa etária. Os principais indícios de transtorno de conduta durante a adolescência são:
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Cometer incêndios;
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Furtar ou roubar objetos;
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Ser cruel com outras pessoas;
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Iniciar confrontos físicos;
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Forçar alguém a atividade sexual;
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Ser cruel com animais;
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Mentir;
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Não apresentar empatia pelo sofrimento alheio;
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Trapacear;
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Destruir ou invadir propriedade alheia;
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Fugir de casa;
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Matar aula;
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Iniciar discussões por motivos pequenos;
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Não respeitar os pais, familiares, professores, colegas de turma e amigos;
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Fazer ameaças, perseguições, intimidações ou provocações;
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Cometer bullying;
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Inventar outra identidade.
Quais os subtipos de Transtorno de Conduta?
O transtorno de conduta possui dois subtipos, os quais possuem como base a idade de surgimento do mesmo. A psiquiatria faz esta classificação como:
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Tipo com início na infância
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Tipo com início na adolescência.
Ambos têm três níveis de intensidade – leve, moderado e grave – os quais se caracterizam da seguinte maneira:
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Leve: poucos problemas de comportamento e os danos são relativamente pequenos. Envolvem atitudes como mentiras, quebra de regras familiares e matar aula;
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Moderado: mais problemas de conduta aparecem e as consequências são mais severas, mas ainda não representam uma ameaça a integridade física ou a segurança de terceiros;
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Grave: muitos problemas de conduta que implicam em danos severos na vida de outras pessoas, como crueldade física, agressividade, estupro, ferimentos por arma de fogo, assalto, arrombamento de propriedade, etc.
Quando os pais da criança ou do adolescente vão até o especialista, médico psiquiatra ou psicólogo, é feito uma estimativa de início do transtorno. Geralmente, a primeira manifestação acontece cerca de dois anos ou mais antes.
Essa discrepância é identificada porque os pais tendem a demorar para levar os filhos até o especialista para fazer a investigação de seu comportamento. Eles podem negar as suas preocupações, ter medo do diagnóstico oficial, não considerar a possibilidade da existência de uma condição psiquiátrica, entre outras razões.
Subtipo com início na infância
Um dos critérios para o transtorno de conduta infantil é o surgimento antes dos 10 anos de idade. A criança frequentemente desafia os pais, irmãos, familiares, colegas, professores e outros adultos. Duas condições podem surgir ao mesmo tempo que o transtorno de conduta, sendo elas o Transtorno Desafiador Opositivo ou o Transtorno Hipercinético de Conduta.
A primeira condição diz respeito às atitudes desafiadoras contra figuras de autoridade, como discutir com adultos, ser cruel e vingativo, importunar outras pessoas e culpar terceiros por seus próprios erros. Quando acontece concomitantemente com o transtorno de conduta, a criança viola os direitos de terceiros repetidas vezes.
Já o transtorno hipercinético de conduta apresenta três sintomas principais: hiperatividade, desatenção e impulsividade. Ele, na verdade, é um subtipo do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) com características mais severas. As sequelas dessa condição também tendem a ser mais graves.
Por fim, a criança com esse transtorno tem dificuldade nos três eixos, ou seja, ela é hiperativa, desatenta e impulsiva obrigatoriamente. Já no TDAH, os critérios de diagnóstico têm como base a anormalidade somente em um ou dois eixos. Os meninos costumam ser os mais afetados, mas, de acordo com o DSM V, a diferença entre gêneros diminui após a puberdade.
Subtipo com início na adolescência
Diferente do transtorno com início na infância, adolescentes com esse subtipo têm menor propensão a comportamentos agressivos. Eles conseguem formar vínculos afetivos mais facilmente e, ainda, não engajam em atividades criminosas com tanta facilidade.
Quando o transtorno de conduta é identificado na infância, ele tem mais chance de se transformar em um transtorno de personalidade antissocial na vida adulta. O cenário é o contrário quando o diagnóstico ocorre na adolescência. O indivíduo consegue ter empatia, se relacionar e levar um modo de vida praticamente normal. A incidência deste subtipo é quase a mesma entre homens e mulheres.
Em que categoria estão o Transtorno de Conduta (TC) e o Opositor Desafiador (TOD)
Para entender como o TC e o TOD estão classificados, é preciso compreender antecipadamente os chamados transtornos disruptivos. Dessa forma, podemos explicar melhor em que grupo as duas condições estão.
Portanto, o TC e o TOD pertencem à categoria dos transtornos disruptivos, que são definidos em padrões comportamentais característicos cuja ligação se dá pela transgressão de normas, atitudes desafiadoras e antissociais. Inclusive, há a predominância de ações que podem causar descontentamento nas pessoas que convivem com a criança nessa condição, como frustração, ansiedade, raiva e impaciência.
De acordo com Barletta (2011), os transtornos disruptivos não são de fácil diagnóstico. Em outras palavras, a dificuldade para identificá-los está associada ao fato de haver uma “série de classes de comportamentos, incluindo os desafiadores”.
A pesquisadora ainda ressalta que “nem todo comportamento apresentado por eles [pacientes] são aqueles desejados socialmente, como os comportamentos de educação e civilidade” (BARLETTA, 2011). Desse modo, o Transtorno de Conduta - TC - e Transtorno Opositor Desafiador (TOD) estão incluídos nesse grupo, o que pode gerar preocupação em pais e professores quando têm acesso ao diagnóstico da criança.
Qual a diferença entre eles?
O ponto que diferencia um do outro é sutil, mas o suficiente para delimitar a abrangência dos transtornos na vida da pessoa. Assim sendo, a literatura da área ressalta que a diferença entre eles é o fato de o TOD ser originado de uma insubmissão das crianças e adolescentes às regras impostas pelos adultos\ambientes.
Já o TC tende a ganhar contornos mais severos, em função dos pequenos e jovens manifestarem atitudes agressivas (como presenciados no TOD), mas caracterizados também pelo senso de manipulação e controle da situação por meio de mentiras que os favoreçam. Tudo isso como forma de ludibriar as pessoas e até agredi-las para conseguir o que desejam.
Além disso, especialistas sugerem que o TC tende a gerar mais receio por parte dos adultos em função dos desdobramentos que ele causa, tais como: crueldade com pessoas e animais; vandalismo; furtos e outras violações que exigem atenção redobrada. De forma resumida, o TC pode ser mais nocivo que o TOD.
No entanto, é fundamental ressaltar que ambos os casos são transtornos reconhecidos pelo DSM–V (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), ou seja, não significam que as crianças ajam deliberadamente com o simples intuito de fazer mal a alguém. Nesse sentido, as condições podem ser submetidas a intervenções que visem à diminuição e ao controle dos sintomas.
Qual é a relação com o Transtorno de Personalidade Antissocial?
Conforme explanado anteriormente, os comportamentos antissociais tendem a prevalecer em casos de diagnóstico de transtorno de conduta na infância. Se as condutas inapropriadas e cruéis continuarem após os 18 anos, os critérios para o diagnóstico do Transtorno de Personalidade Antissocial são automaticamente preenchidos.
Todavia, isso não significa que toda criança com transtorno de conduta desenvolverá uma personalidade antissocial. O acompanhamento psicológico e médico é necessário para que sinais do encaminhamento para essa realidade sejam identificados precocemente. De acordo com o DSM V, existem vários tipos de condutas antissociais.
Esse transtorno da personalidade antissocial pode dar os primeiros sinais ainda na adolescência, por meio de alguns comportamentos agressivos e falta de empatia. No entanto, para ser diagnosticado, o indivíduo precisa ter mais de 18 anos e se encaixar em, pelo menos, três dos critérios apresentadas abaixo nos últimos 12 meses e uma conduta persistente nos últimos seis meses:
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incapacidade de adequação a normas sociais;
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impulsividade ou incapacidade de seguir planos;
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Alguns desses comportamentos antissociais incluem ameaça ou intimidação, perseguição, roubo, assalto com confronto com a vítima, lutas corporais, utilização de armas para ferir os outros, crueldade com pessoas e animais, manipulação, destruição de propriedade, entre outros.
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agressividade e irritabilidade;
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enganar, mentir e ludibriar outros com objetivo de ganhos pessoais;
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ser irresponsável com a segurança própria ou de outros;
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ausência de remorso
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incapacidade de se manter em empregos e de honrar compromissos financeiros.
Contudo, segundo um artigo do US National Library of Medicine, aproximadamente 80% das pessoas que desenvolvem o Transtorno da Personalidade Antissocial, apresentam seus primeiros sintomas a partir dos 11 anos de idade e que podem ser mais perceptíveis a partir dos 15 anos de idade.
Quais os critérios do diagnóstico?
Além dos sintomas mencionados anteriormente, o indivíduo com transtorno de conduta tende a interpretar as intenções ou as ações de outras pessoas como mais hostis e ameaçadoras do que realmente são. Ele, ainda, possui dificuldade para tolerar frustrações, tem baixo autocontrole, é irritável e desconfia das intenções de quem está perto. Aliando essas características da personalidade do indivíduo aos sintomas deste transtorno, fica mais fácil chegar a um diagnóstico com exatidão. Outro fator que serve de apoio para o diagnóstico certeiro é a ideação suicida. Indivíduos com essa condição psiquiátrica têm mais chance de tentarem cometer suicídio ou de tirarem a própria vida.
O transtorno de conduta tende a afetar meninos e meninas de maneira diferente. As meninas podem ser menos propensas a ser fisicamente agressivas. Em vez disso, elas normalmente fogem, mentem e, às vezes, se engajam em trabalhos sexuais. Os meninos tendem a brigar, furtar e vandalizar. Todas as pessoas com transtorno de conduta são propensas a fazer uso de substâncias ilícitas.
A ideação suicida pode ocorrer e ela precisa ser levada a sério para proteger a segurança da criança. A criança com transtorno de conduta costuma ter outros transtornos, como depressão, transtorno do déficit de atenção com hiperatividade ou um distúrbio de aprendizagem.
Aproximadamente dois terços das crianças interrompem os comportamentos impróprios antes de chegar à idade adulta. Quanto mais cedo surgir o transtorno de conduta, mais probabilidade existe de que ele continue. Caso o comportamento continue na idade adulta, a pessoa com frequência tem problemas com as autoridades, viola de maneira crônica os direitos alheios e é frequentemente diagnosticada com transtorno de personalidade antissocial. Alguns desses adultos desenvolvem transtornos do humor, de ansiedade ou outros distúrbios de saúde mental.
Quais são os tratamentos possíveis?
O tratamento para o transtorno de conduta é feito com a psicoterapia e a ingestão de medicamentos psiquiátricos, receitados pelo médico psiquiatra. Tanto a terapia individual quanto a terapia familiar podem ajudar nesse caso.
O acompanhamento junto a um psicólogo pode melhorar a autoestima e o autocontrole da criança ou do adolescente, além de possibilitar a mudança comportamental. O psicólogo auxilia os pacientes com esse transtorno a controlarem as suas emoções, racionalizarem as suas percepções negativas e compreenderem a necessidade de combater atos impulsivos para o seu próprio bem e o das pessoas a sua volta.
Casos graves, contudo, devem ser transferidos para hospitais psiquiátricos, onde os indivíduos também farão acompanhamento psicológico. O afastamento do ambiente onde vivem é necessário para prevenir ações cruéis ou criminosas, bem como para trabalhar a impulsividade.
O recomendado para pais e cuidadores é sempre buscar um psicólogo ou médico psiquiatra em face de condutas altamente inapropriadas. Se a criança ou o adolescente não demonstrar remorso por suas ações, a urgência de um diagnóstico precoce é ainda maior.
Considerações Finais
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Saber a hora de recorrer à internação também pode ser crucial para o sucesso do tratamento e é um dos grandes desafios para quem convive com esse tipo de doença. No entanto, nem sempre a psicoterapia é eficaz se não for associada a outras opções. O complemento ao tratamento pode ser feito por meio de fármacos para depressão e ansiedade, já que não existem medicamentos específicos para o transtorno em questão.
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Não há cura para o Transtorno de Conduta, mas o tratamento pode ajudar o paciente a conviver com os sintomas. O principal método é a psicoterapia, que vai trabalhar o entendimento do paciente em relação aos sentimentos de outras pessoas.
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Antes de decidir, é preciso que a pessoa responsável pelo paciente reflita e converse com ele sobre a real disposição para se tratar. Se a pessoa com esse transtorno percebe os prejuízos que a doença traz, a evolução é mais fácil — geralmente ela busca ajuda voluntariamente quando sofre graves consequências, como prisão ou perda de alguém próximo. Em casos de indecisão, a melhor opção é buscar ajuda médica. Em uma situação como essas, o psiquiatra é a pessoa mais indicada para avaliar a necessidade ou efetividade da internação.
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Também é importante ter em mente que, hoje em dia, a internação é muito mais humana do que antigamente. Algumas pessoas ainda têm uma imagem muito forte de antigos manicômios, mas a realidade é muito diferente. Hoje é possível encontrar hospitais com estrutura completa de clínica, área verde, acompanhamento psicológico, opções de lazer, atividades físicas e de socialização e outros serviços de saúde, como tratamento odontológico.
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Pessoas próximas também precisam de acompanhamento psicoterapêutico. Isso vai ajudar a desenvolver habilidades para lidar com o ente querido. Também é comum se sentir abatido e desmotivado em situações como essas, e o processo terapêutico é muito indicado para o auxílio em relação a esses sentimentos.
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Se você quer ajudar alguém que sofre com o Transtorno de Conduta, ofereça apoio constante e não deixe de lado o acompanhamento médico. Esse tipo de desordem pode trazer graves consequências tanto para o paciente quanto para quem convive com ele e a pessoa mais indicada para ajudar é o psiquiatra.
Fontes e Referências:
Antonio A. Belelli - Mestre em Educação, Licenciado em Pedagogia, Pós-graduado em Neuropedagogia e Neurociências, Especialista em Psicologia Educacional.
Tatiane Pimenta - Cursou The Science of Happiness pela University of California, Berkeley.
Centro de Cuidados em Saúde Mental - Hospital Santa Mônica - SPJosephine Elia,
Polderman TJC, Benyamin B, de Leeuw CA, et al: Meta-analysis of the heritability of human traits based on fifty years of twin studies. Nat Genet 47(7):702-709, 2015. doi: 10.1038/ng.3285
Regier DA, Farmer ME, Rae DS, et al: Comorbidity of mental disorders with alcohol and other drug abuse. Results from the Epidemiologic Catchment Area (ECA) Study. JAMA 264(19):2511-2518, 1990. PMID: 2232018.